Suplicy é detido em operação da PM em SP

Stella Borges

26/07/2016

 

 

Ex-senador foi carregado e levado a delegacia; governo Alckmin diz que ele ‘tumultuou’ reintegração de posse Apesar de resistir, Suplicy disse que não houve abuso policial em abordagem

O ex-senador Eduardo Suplicy (PT), candidato a vereador por São Paulo, foi detido por desobediência ontem de manhã, após protestar durante uma reintegração de posse de um terreno da prefeitura de São Paulo na região da rodovia Raposo Tavares, na Zona Oeste da capital paulista. Ele ficou cerca de três horas na delegacia antes de ser liberado. A Secretaria de Casa Civil do governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que o petista se aproveitou da “fragilidade das famílias” que ocupavam a área e “tumultuou” a operação da Polícia Militar.

No terreno da prefeitura viviam cerca de 350 famílias em barracos. Durante a manhã, os policiais usaram bombas de gás para tentar dispersar os sem-teto, que revidaram atirando pedras. Suplicy disse que se deitou no chão, na frente da PM, para evitar a violência entre policiais e moradores. O governo de São Paulo afirmou que a detenção do ex-senador foi determinada por uma oficial de Justiça. Quatro policiais levantaram Suplicy e o carregaram pelos braços e pernas até um carro da polícia.

“COM RESPEITO”

Na delegacia, o ex-senador assinou um termo circunstanciado. Ele disse que não houve abuso policial:

— Não acredito que houve abuso porque eu próprio disse a eles para me levarem, se quisessem. Teve um momento que estavam me levando com certa força e eu chamei a atenção. Depois, me levaram com mais respeito.

Outras duas pessoas foram detidas. Segundo a PM, elas trocaram tiros com a polícia durante a reintegração de posse e não haviam sido liberadas até a noite.

Ao deixar a delegacia, Suplicy afirmou que foi bem tratado pelas autoridades e até brincou com a situação:

— Inclusive, ficamos conversando no caminho para cá numa boa com os (policiais) que me carregaram e me colocaram na viatura. Dos 15 aos 21 anos eu treinei boxe, participei do campeonato da “Gazeta Esportiva” e procuro me manter sempre em boa forma. Se necessário for, eu sei como fazer. Mas continuo um grande discípulo da não violência.

Nas redes sociais, por meio de sua assessoria de imprensa, porém, o petista havia dito que “a truculência da Polícia Militar do governo Alckmin é inaceitável. Se fazem isso com um ex-senador da República, imagine o que sofre a população que tanto precisa de apoio”.

Em resposta, o governo paulista criticou a atuação do ex-senador. Em nota assinada pela Secretaria da Casa Civil, o governo diz que “lamenta que o ex-senador Eduardo Suplicy tenha aproveitado a fragilidade de famílias para tumultuar uma reintegração de posse em cumprimento a ordem judicial solicitada pela prefeitura de São Paulo, dona do terreno”. Segundo o governo Alckmin, parte das 400 famílias que estavam morando no terreno já havia se retirado da área, e três reuniões prévias haviam sido realizadas. As famílias foram cadastradas no programa habitacional do município.

 

BARRICADAS EM VÁRIAS REGIÕES

A reintegração de posse e a detenção de Suplicy provocaram reações do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). À tarde, o movimento bloqueou com barricadas várias regiões de São Paulo: nas avenidas Jacú Pêssego, Zona Leste, Giovanni Gronchi, Zona Sul, na Rodovia Regis Bittencourt, Zona Oeste, e no Rodoanel Mário Covas, também Zona Sul.

Na nota, a prefeitura informou que a área em que foi executada a reintegração de posse apresenta “risco elevado de desabamento”, o que inviabiliza construção de moradias populares. “A Defesa Civil do município estudou a possibilidade de retirar apenas parte dos barracos, mas concluiu que isso colocaria os demais barracos em risco, por causa da fragilidade estrutural do conjunto. A reintegração de posse é uma determinação judicial e os moradores foram avisados previamente sobre a desocupação”.

 

 

O globo, n. 30304, 26/07/2016. País, p. 7.