Disputa do impeachment marca convenções em SP
As convenções partidárias que definiram ontem dois dos principais candidatos à Prefeitura de São Paulo amplificaram o clima de polarização que marca a política brasileira desde as eleições de 2014 e que culminou no processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT).
Ao lançar o empresário João Doria pelo seu PSDB, o governador Geraldo Alckmin, nome sempre lembrado para a disputa presidencial de 2018, afirmou que “os 13 anos do lulopetismo levaram o País a ser saqueado”.
“O PT quer vencer a eleição para se redimir e resolver seus problemas”, disse.
Em carta em apoio à reeleição do prefeito Fernando Haddad (PT), Dilma afirmou que o “recrudescimento” de um “confronto entre forças democráticas e facções conservadoras resultou no golpe que tenta derrubar um governo legítimo”. “O impeachment que tentam me infligir é um golpe contra o voto popular e, como tal, deve ser enfrentado”, declarou a petista na mensagem a Haddad.
Doria oficializou sua candidatura em uma convenção sem a participação de tucanos históricos e que teve seu padrinho político Alckmin como protagonista. O candidato não esconde que sua campanha é a porta de entrada do governador na disputa ao Planalto em 2018.
Também participaram do ato dois ministros do presidente em exercício Michel Temer – Bruno Araújo (Cidades) e Alexandre de Moraes (Justiça). Sem citar nomes, o titular da Justiça disse que “o brasileiro da cidade de São Paulo não aguenta mais tanta corrupção, tanta incompetência e tanta falta de trabalho”.
Dificuldade. Se Doria teve Alckmin ao seu lado, Haddad subiu ao palanque da convenção do PT com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alvo da Operação Lava Jato e líder das principais pesquisas sobre 2018. A avaliação no PT é a de que a reeleição de Haddad representa a sobrevivência da legenda. “Esta, possivelmente, será a eleição mais difícil que a gente vai concorrer em São Paulo”, disse o ex-presidente.
O mote da convenção petista foi o “Fora Temer”. Lula citou o presidente em exercício ao agradecer a vice-prefeita de São Paulo, Nadia Campeão (PCdoB), que não vai participar da chapa à reeleição.
“Se Temer tivesse se preocupado em olhar o comportamento da vice de São Paulo, certamente não teria dado o golpe”, disse o petista. Segundo Lula, padrinho de Haddad, o candidato petista “é mais conhecido que nota de dois reais”. “O que não é conhecido são as maravilhas que ele fez pela cidade”, afirmou o ex-presidente.
Outros. Também ontem convenções partidárias oficializaram as candidaturas de Celso Russomanno (PRB) e Luiza Erundina (PSOL) à Prefeitura de São Paulo.
Embate
“Os 13 anos do lulopetismo levaram o País a ser saqueado.”
Geraldo Alckmin
GOVERNADOR DE SÃO PAULO
“O impeachment que tentam me infligir é um golpe contra o voto popular.”
Dilma Rousseff
PRESIDENTE AFASTADA
PADRINHOS, CANDIDATOS E VICES
PT
Haddad, entre Lula e Chalita, durante convenção na Quadra do Sindicato dos Bancários, no centro da cidade
PSDB
João Doria, entre Alckmin e Bruno Covas, durante convenção na Fecomércio, na região central da cidade
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Na convenção, João Doria buscou minimizar divisões internas do PSDB paulista e afirmou que política “não se faz com o fígado”. “Nunca fui um divisionista”, disse. A sigla vive um racha desde as prévias que elegeram Doria. O processo interno levou o vereador Andrea Matarazzo a deixar o partido e se filiar ao PSD. Para amenizar, um tucano foi escolhido como vice da chapa: Bruno Covas.
Na votação durante a convenção, Doria teve 819 votos favoráveis à sua candidatura e 19 contrários.
Nomes importantes do partido não foram ao evento, como o chanceler José Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente da legenda, senador Aécio Neves, que enviou mensagem em vídeo. Esteve presente o senador Aloysio Nunes (SP), que fez campanha contra Doria nas prévias.
Em entrevista, o candidato disse considerar “pouco” o valor reservado pelo diretório nacional do PSDB para a campanha: R$ 300 mil. “É pouco, mas eu compreendo as necessidades do presidente (do PSDB) Aécio, que tem que atender ao País inteiro”. Segundo auxiliares, esse foi o valor gasto somente com a convenção, que teve seu custo dividido entre diretórios.
A campanha de Doria, que é o candidato mais rico na capital, calcula gastos entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões, nos dois turnos. Ele promete fazer concessões de equipamentos públicos para a iniciativa privada / P.V.
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a fórmula para conquistar a reeleição de Fernando Haddad deve ser a mesma usada há quatro anos: investir no diálogo com a periferia.
Reservadamente, os petistas admitem que a atual gestão deixou em segundo plano a periferia da cidade e que o candidato petista enfrentará dificuldades nos bairros mais pobres.
Lula lembrou que, em 2012, quando Haddad “parecia candidato em liquidação”, com baixo índice de intenção de voto, disse a ele para “conversar com o povo, porque todas as eleições nós ganhamos na periferia”.
Para o ex-presidente, Haddad cometeu um erro ao não fazer propaganda sobre as coisas que fez como prefeito. Lula orientou a coordenação da campanha à reeleição a fazer folhetos com a lista de obras da gestão petista na Prefeitura para promover o que ele chamou de “informação de mesa de bar”. “Porque a gente tem que ter na ponta da língua a resposta quando alguém perguntar o que ele fez”, afirmou Lula.
O ex-presidente pediu a Haddad e Gabriel Chalita (PDT), candidato a vice, que não “falem mal” das também candidatas Marta Suplicy (PMDB) e Luiza Erundina (PSOL), ex-prefeitas de São Paulo pelo PT.
Lula disse ainda que pretende viajar pelo Brasil para pedir votos a candidatos petistas, mas afirmou que São Paulo é a prioridade. / V.H.F.
O Estado de São Paulo, n. 44841, 25/07/2016. Política, p. A4