A presidente afastada Dilma Rousseff conseguiu obter mais 30 dias para apresentar ao Tribunal de Contas da União (TCU) a defesa que justifica as contas do governo federal em 2015. Fontes próximas à petista confirmaram que o novo prazo começa a valer a partir de hoje.
A defesa de Dilma argumentou que ela só conseguiria responder aos questionamentos com base nos subsídios das áreas técnicas; no entanto, algumas informações não foram tornadas disponíveis.
O relator do processo, ministro José Múcio Monteiro, disse que na análise das contas de 2014 o prazo também foi estendido e que, antes de deferir o pedido feito por Dilma, consultou outros ministros da corte.
Auditoria do TCU concluiu que o governo da petista fez empréstimos ilegais com dois bancos públicos no ano passado. O relatório de técnicos da corte confirma que a gestão Dilma repetiu as pedaladas fiscais – uma das bases do processo de impeachment que tramita no Senado – no primeiro ano de seu segundo mandato e indica a responsabilidade de 11 autoridades da equipe econômica nas irregularidades, entre elas o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy.
A avaliação de fontes ligadas à presidente afastada é que ainda é cedo para avaliar se o aumento do prazo para a defesa pode ter alguma interferência no processo de impeachment.
O ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo, que atua como advogado de Dilma Rousseff no Senado, disse que a prorrogação não “muda em nada” a estratégia da defesa.
Bancos. Conforme parecer do TCU, o Tesouro atrasou repasses devidos não só ao Banco do Brasil para bancar juros subsidiados pelo governo – o que é citado no processo de impeachment –, mas também ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
No entendimento dos auditores da corte de contas, esses atrasos caracterizaram operações de crédito entre as instituições financeiras estatais e seu ente controlador, a União, o que afronta a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Além das pedaladas, foram apontadas outras falhas, como o pagamento de débitos com o FGTS sem a devida autorização em lei.
As pedaladas somaram R$ 5,63 bilhões no caso do Banco do Brasil e R$ 8,04 bilhões no caso do BNDES. As conclusões reforçam argumentos de senadores favoráveis ao afastamento definitivo de Dilma do cargo e devem também influenciar eventual parecer da corte pela reprovação das contas de 2015 do governo da petista.
Em 15 de junho, o tribunal já havia apontado indícios de irregularidades nos balanços apresentados pela gestão da presidente afastada, abrindo prazo para que ela apresentasse defesa. / COLABOROU FÁBIO FABRINI
O Estado de São Paulo, n. 44841, 25/07/2016. Política, p. A5