O globo, n. 30293, 15/07/2016. País, p. 6

Cunha perde em comissão, e aliados já consideram cassação provável

Rodrigo Maia confirma que votação no plenário da Câmara ocorrerá em agosto

Por: André de Souza e Jailton de Carvalho

 

Nove meses após o Conselho de Ética receber a denúncia pedindo a cassação do mandato do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDBRJ), que na época era presidente da Câmara, finalmente o processo irá ao plenário da Casa. Ontem, por 48 votos a 12, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) rejeitou o último recurso de Cunha, que tentava devolver o processo por quebra de decoro ao Conselho de Ética. Em seguida, por 40 votos a 11, aprovou parecer do deputado Max Filho (PSDB-ES) encaminhando o processo ao plenário. Agora, caberá aos 512 deputados decidirem se cassarão ou não o mandato de Cunha. Ontem, o novo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avisou que a votação ocorrerá ainda em agosto, logo após o recesso parlamentar.

Após a derrota acachapante na comissão, até mesmo os aliados mais próximos de Cunha passaram a considerar a cassação provável. São necessários 257 votos em plenário para que ele perca o mandato. O deputado Carlos Marun (PMDB-MS), que se notabilizou pela defesa de Cunha no Conselho e na Comissão, reconheceu a dificuldade em mudar o quadro no plenário, recomendou que o colega recorra ao Judiciário e afirmou que os adversários do ex-presidente da Câmara têm ódio de Cunha.

— O que fazer? O ódio está vencendo. Os que perderam a eleição para Cunha estão se tornando vitoriosos e os que estão tristes com o impeachment estão se sentindo vingados — disse Marun. — Não sou de desistir da luta antes de ela acabar. Vamos tentar fazer a Casa ver que o foro adequado para julgar é o Supremo Tribunal Federal. Mas não sou homem de mentir, e confesso que está muito difícil.

Um líder do centrão, bloco que sempre apoiou Cunha, disse acreditar que não há mais o que fazer pelo peemedebista. Na avaliação dele, o número de votos para a cassação em plenário deve chegar perto de 400, quando são necessários 257. Há ainda reclamação pelo fato de Cunha ter exposto muitos de seus aliados.

— Não tem mais jeito. Agora já foi. Será cassado — reconheceu o aliado de Cunha.

Um parlamentar da base do presidente interino, Michel Temer, avaliou que ele não teria hoje mais do que 10% dos votos da Casa:

— Ele teve só um sexto dos votos na CCJ, onde a estratégia estava previamente combinada. No plenário, ele chega no máximo a um décimo.

O líder da Rede, deputado Alessandro Molon (RJ), avaliou que houve um racha no centrão.

— As derrotas por ampla margem de diferença na CCJ e na disputa pela presidência da Câmara demonstram que o centrão rachou e parte dos deputados o abandonou. O prognóstico da votação em plenário é claramente favorável à cassação.

A eleição do candidato do centrão à presidência da Câmara, Rogério Rosso (PSD-DF), era tida como um dos últimos recursos para que Cunha pudesse ganhar tempo em sua defesa. Mas, com a vitória de Rodrigo Maia, que já afirmou que não irá “nem perseguir, nem proteger” seu ex-aliado, não haverá salvação para Cunha, na avaliação de interlocutores do governo.

— Cunha será cassado. A rejeição de recurso impetrado por ele na CCJ é reveladora do humor da Casa — disse um auxiliar de Temer.

Diante desse cenário, tornou-se mais remota a possibilidade de o governo ter qualquer atuação a favor de Cunha. O tratamento será de respeito, mas também de neutralidade. (Colaboraram Eduardo Bresciani, Isabel Braga, Letícia Fernandes, Júnia Gama e Catarina Alencastro)

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Peemedebista diz que vai recorrer ao Supremo

Cunha negou que tenha feito ameaça velada a outros parlamentares investigados

 

-BRASÍLIA- Após se notabilizar em sua gestão na presidência da Câmara por atropelar as minorias e tomar decisões polêmicas para fazer prevalecer sua vontade, Eduardo Cunha se disse ontem vítima de manobras e ilegalidades. Mais uma vez, reclamou de decisões dos colegas e disse que vai recorrer à Justiça:

— Obvio que vou arguir a ilegalidade disso no Supremo Tribunal Federal.

Em sua defesa, Cunha acusou novamente o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PR-BA), de buscar os holofotes da mídia, e negou que tenha feito qualquer ameaça a colegas:

— Não fiz ameaça aos parlamentares ao citar que 117 deputados têm inquérito e ações penais, alguns com mais de um. Disse que é um precedente que qualquer acusação formal contra qualquer parlamentar possa levar à abertura de processo de cassação de mandato.

Cunha pediu aos deputados da CCJ que fizessem análise jurídica, e não política, e que os que querem cassá-lo deixem o julgamento político para o plenário:

— Os que desejam me punir porque perdem a eleição para mim, e que sequer têm votos para disputar uma eleição como a de ontem, os que são contra mim porque abri o impeachment e querem buscar uma cabeça para desvalorizar o impeachment, aqueles que me enfrentaram pela pautas e foram derrotados, e os que querem minha retirada da vida pública para compensar seus fracassos, que o façam no plenário.

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