Temer hesita, e nomeação de Beltrão para Turismo corre risco

Catarina Alencastro e Júnia Gama

22/07/2016

 

 

Presidente interino teme desgaste porque deputado alagoano é réu no STF

A nomeação do deputado federal Marx Beltrão (PMDB-AL) para o Ministério do Turismo está suspensa, enquanto o presidente interino, Michel Temer, reavalia se vale a pena enfrentar o desgaste de empossar o indicado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Beltrão tem sido alvejado pela imprensa nos últimos dias devido ao fato de ser réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por falsidade ideológica.

Interlocutores de Temer no Palácio do Planalto dizem que ele gostaria que Renan sugerisse um nome alternativo ao de Beltrão. Por meio de aliados do presidente do Senado, Temer teria manifestado essa vontade. Mas Renan ainda não teria apresentado outro nome.

No Palácio do Planalto, a avaliação é que a nomeação de Beltrão seria ruim para todos: governo, Renan, PMDB e o próprio Beltrão. Assessores presidenciais defendem que é melhor tentar outro nome, que não exponha a todos.

TEMER QUERIA EMPOSSAR BELTRÃO ESTA SEMANA

Caso Renan resolva fazer uma nova sugestão, a indicação deixaria de ser compartilhada entre ele e a bancada do PMDB e passaria a ser apenas do presidente do Senado. Só numa segunda etapa seria resolvida a questão da bancada.

— O Renan vai indicar? Sim. Então, o nome é dele. Ele indica um nome, não precisa ser da bancada. Em função do tumulto gerado, do noticiário negativo, o governo está buscando uma solução. Estão propondo que ele indique outro nome. Vai ser ruim para o Renan, para o Marx, para o governo... Todos saem apanhando. Essa solução é ruim para todas as partes — afirma um interlocutor de Temer.

Um auxiliar do governo destaca que já estão sendo levantadas até histórias sobre o pai de Beltrão, envolvido em escândalos em seu estado. Um aliado de Renan conta, no entanto, que dificilmente o senador abrirá mão de Beltrão, já que vê nele um potencial sucessor de seu filho em Alagoas, Renan Filho, governador do estado.

Interlocutores de Temer dizem que ele é “muito sensível ao noticiário” e isso teria levado à preocupação em trocar o indicado. O episódio que teria desestabilizado a nomeação de Beltrão foi uma reportagem veiculada pelo “Jornal Nacional” terça-feira, relatando as acusações contra o deputado, quando Temer jantava com Renan e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (PMDB-RJ).

Embora não tenha assistido à reportagem, Temer foi informado de que ela foi muito ruim para o ministeriável. Desde então, tem avaliado a repercussão das notícias críticas ao deputado alagoano. Naquela noite, Temer estava decidido a dar posse a Beltrão. E disse a interlocutores que queria resolver o assunto o mais rapidamente possível, indicando que poderia empossar o novo ministro ainda esta semana.

Um político que conversou com Temer sobre o tema conta que o aconselhou a aceitar a nomeação de Renan por considerar que a denúncia não é grave e ocorreu quando o deputado era prefeito de Coruripe (AL), entre 2009 e 2012. Na época, Beltrão teria apresentado ao Ministério da Previdência Social comprovantes de repasse e recolhimento com informações falsas.

Beltrão já se defendeu das acusações: afirmou que a ação em curso é “improcedente” e que não houve “nenhum prejuízo aos cofres públicos”. Segundo o deputado, houve um “erro formal” no recolhimento de contribuições, o que configuraria, em seu ver, dolo ou má-fé. “Assim que detectada, a impropriedade foi corrigida com depósitos suplementares”, explicou Beltrão em nota, logo que passou a ser cotado para o Ministério do Turismo.

O deputado alega que “erros não são fraudes” e chama o episódio de “pseudo escândalo, cujas motivações políticas são indisfarçáveis”. Chegou a mostrar a cópia do extrato bancário, com um comprovante de depósito em cheque de R$ 991.110 da prefeitura de Coruripe para a Previcoruripe.

 

 

O globo, n. 30300, 22/07/2016. País, p. 6.