COLLOR - Ex-presidente não vê golpe

Fábio Vasconcellos

31/07/2016

 

 

Senador não declara posição, mas indica que votará contra Dilma

 

O senador Fernando Collor (PTC-AL), alvo de impeachment em 1992 e que ainda não declarou como votará no caso de Dilma Rousseff, ocupou ontem a tribuna do Senado e fez críticas ao governo petista, dando a entender que votará pelo afastamento. Atento, o plenário fez um silêncio incomum para ouvir a fala do senador.

Collor disse que o impeachment “é um remédio constitucional de urgência no presidencialismo quando o governo, além de cometer crime de responsabilidade, perde as rédeas do comando político e econômico do país”.

O senador afirmou que, quando passou pelo processo de impedimento, foi forjada uma situação inexistente.

— Forças conjugadas simularam uma crise política de governabilidade, forjaram uma instabilidade econômica que não existia e transformaram hipotética infração comum em crime de responsabilidade do presidente.

 

COMPARAÇÃO DE PROCESSOS

Para ele, o cenário agora é outro:

— Hoje a situação é completamente diversa: além de infração às normas orçamentárias, o governo afastado transformou sua gestão numa tragédia anunciada. É o desfecho típico de um governo que faz da cegueira econômica o seu calvário, e da surdez política o seu cadafalso. Isso até poderia ensejar um golpe de Estado clássico para solucionar uma aguda crise política. Não foi o caso — afirmou o ex-presidente da República.

Citando documentos históricos, Collor finalizou o discurso dizendo que, hoje, o país não vive “um clima de golpe”.

— Fazendo minhas hoje as palavras de dois documentos daquele período. O primeiro diz que a constatação de que a crise que abala a nação não é nem fantasiosa nem orquestrada, mas originada do próprio Poder Executivo, que se torna assim o único responsável pela ingovernabilidade que ele mesmo criou — afirmou.

Collor citou ainda um segundo documento, redigido pela OAB, em 1992, e disse que o que ocorre hoje são “inúmeras dissimulações”.

— O país não vive qualquer clima de golpe. O que o povo brasileiro deseja é decência e firmeza traduzidas na transparência e probidade no trato da coisa pública. Faço minhas hoje essas palavras: Ontem, eram inúmeras as simulações; hoje, inúmeras são as dissimulações.

 

 

O globo, n. 30340, 31/08/2016. País, p. 5.