Valor econômico, v. 17, n. 4044, 11/07/2016. Políticfa, p. A6

Temer avaliza Rosso, mas não dará apoio ostensivo a líder do PSD

Por: Andrea Jubé

Por Andrea Jubé | De Brasília

 

O presidente interino Michel Temer não fará nenhum movimento ostensivo de apoio a um candidato para a presidência da Câmara dos Deputados. Mas o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), já detém o aval discreto do Palácio do Planalto, onde é apontado como o nome com maior capacidade de unir o "centrão" e de impulsionar as matérias de interesse do governo, como a proposta de emenda constitucional (PEC) que fixa um teto para os gastos públicos.

Temer não quer e não pode melindrar nenhum aliado, numa disputa que pode reunir uma dezena de candidatos de partidos da base governista. Além disso, há o custo político de referendar um candidato e, posteriormente, dividir o ônus de eventual derrota, sobretudo numa disputa tão embaralhada, onde o imponderável terá um peso relevante.

Mas a Câmara dos Deputados ainda é a Casa onde Temer desfruta de seu principal capital político. O pemedebista foi três vezes presidente da Câmara (nos biênios de 1997-1998, 1999-2000 e 2009-2010) e não ficará alheio à disputa, em que exercerá forte influência, sobretudo com a caneta do Executivo em mãos.

"Temer vai apoiar alguém que não lhe cause problemas", resume o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), um frequentador assíduo do Planalto. "O último presidente que interferiu na eleição para a presidência da Câmara saiu impichado, Temer aprende com a história", completa. Sem citar o nome da presidente afastada Dilma Rousseff, Vieira Lima lembra que a petista colocou a máquina do Planalto para trabalhar pela candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e começou ali a turbulência com o Legislativo.

Um pemedebista que convive com Temer há mais de 20 anos confirmou ao Valor que Rogério Rosso é o candidato que goza da discreta simpatia do interino. Afilhado político do presidente licenciado do PSD - o ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab, com quem Temer fala diariamente -, Rosso ganhou projeção na Câmara nas hostes de Cunha, que o nomeou presidente da comissão especial do impeachment. É justamente a proximidade a Cunha que o torna capaz de atrair votos do "centrão", formado por PSD, PTB, PP, PR e PSC, e de onde saiu o líder do governo, André Moura (PSC-SE).

O nome de Rosso tem sido trabalhado por Kassab com Temer há mais de um mês, desde quando se intensificou o clima de instabilidade na Casa sob o comando do interino Waldir Maranhão (PP-MA). Aliás, Maranhão foi visto, na quinta-feira à noite, saindo do gabinete de Temer, com aspecto abatido. Maranhão - que assinou a revogação do impeachment - sondou eventual apoio do Planalto para permanecer na cadeira.

A expectativa do Planalto é de que despontem três nomes mais competitivos: Rogério Rosso, o segundo-vice-presidente Fernando Giacobo (PR-PR) e o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Temer foi pressionado para apoiar o candidato do PMDB, o ex-ministro da Saúde Marcelo Castro (PI). Mas Castro é associado a Dilma, de quem foi ministro, e não tem força para atrair o "centrão".

Giacobo é visto como um nome forte no baixo clero, mas que não daria ao Planalto a mesma "tranquilidade" para avançar com as pautas de interesse do governo. E como alguém que, no limite, poderia mobilizar o baixo clero contra Temer.

O deputado Rodrigo Maia é outro nome de bom trânsito com Temer. Foi cotado para assumir a liderança do governo, mas perdeu para André Moura, que teve o apoio do "centrão". Maia é genro de um dos principais aliados de Temer, o secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco. Mas a leitura no palácio é de que Maia não atrai votos nem do "centrão" nem do baixo clero, que formam a ampla maioria da Câmara, enquanto Rosso teria essa capacidade, com o apoio velado de Cunha, que articula das coxias do plenário.