Tendência pró-impeachment

Isabel Braga, Júnia Gama e Simone Iglesias

30/08/2016

 

 

PLACAR: Dilma conquista dois votos, mas prognóstico segue desfavorável

Às vésperas da votação do impeachment, o dia foi tomado pela disputa dos últimos votos indecisos. Senadores e deputados petistas falaram que Dilma Rousseff fez um discurso forte, “falando com a alma”, e que deverá reverter votos capazes de conter seu impeachment. De fato, conquistaram dois senadores que se diziam indecisos: Otto Alencar (PSD-BA), ex-vice-governador da Bahia durante o mandato do petista Jaques Wagner, e Telmário Mota (PDT-RR).

— Vou votar contra o impeachment. Começaram a dizer que eu estava indeciso, mas tenho para mim que na política a gente só se posiciona quando o momento exige — afirmou.

Outros senadores que ainda não haviam revelado voto também elogiaram a presidente afastada, mas a avaliação geral, mesmo entre petistas, é que dificilmente Dilma conseguirá ganhar apoios suficientes para reverter o impeachment. Segundo senadores do partido, existe um potencial de 10 votos que poderiam virar, mas seria necessária uma onda que ainda não veio.

— Não adianta virar, um dois, três. Um senador precisa da segurança de que os outros também votarão contra. Se conseguir cinco, pega dez. Está bem difícil, mas não é impossível — avaliou um petista.

Com a ajuda do governador Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, os petistas buscam o voto dos três senadores do estado, além do apoio de senadores que têm evitado declarar posição, como Fernando Collor (PTBAL) e Acir Gurgaz (PDT-RO).

Do lado dos aliados de Michel Temer, não há dúvidas que o jogo está a favor dele. O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), afirmou que Dilma é uma “pessoa boa”, mas perdeu sustentação política. Segundo o líder, os dois peemedebistas do Maranhão votarão a favor do impeachment.

— Todos no Maranhão votam com a gente — disse Eunício.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, desembarcou em Brasília e trabalha para garantir votos contra o impeachment na bancada do partido. O PDT tem três senadores: Lasier Martins (PDT-RS) já declarou voto a favor do impedimento, Acir Gurgaz (RO) ainda não revelou o voto, e Telmário Mota (RR), um dos maiores críticos do processo desde o início e que passou a se dizer indeciso, confirmou que será contra o impeachment.

O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), afirmou que o partido fechou questão a favor do impeachment, mas que não irá cobrar essa posição do senador Roberto Muniz (PP-MA), suplente do senador Walter Pinheiro (Sem partidoBA), que tem sinalizado o voto contra o impeachment.

— Se ele mudar o voto, perde o mandato (pois Pinheiro pode voltar). O partido não vai exigir isso dele — afirmou Nogueira.

Apesar de o Planalto já contabilizar o voto de Jader Barbalho (PMDB-PA) pelo impeachment, o peemedebista afirmou ao GLOBO que as colocações de Dilma podem mudar o panorama.

— A fala dela pode mudar não só o meu voto, pode influenciar todo o Senado. Só tenho cumprimentos a ela pela coragem política de vir ao Senado fazer essa exposição — afirmou Jader.

 

 

O globo, n. 30339, 30/08/2016. País, p. 5.