Valor econômico, v. 17, n. 4038, 01/07/2016. Política, p. A2

CMN mantém em 4,5% meta de inflação de 2018, e banda recua para 1,5 ponto em 2017

Por: Eduardo Campos e Edna Simão

Por Eduardo Campos e Edna Simão | De Brasília

 
 
 
O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu manter em 4,5% a meta de inflação a ser perseguida pelo Banco Central (BC) em 2018. Para 2017, o colegiado confirmou a meta de 4,5% com banda de tolerância de 1,5 ponto percentual. A meta está em 4,5% desde 2005 e, atualmente, a banda para absorção de choques está em dois pontos percentuais.
O governo cogitou reduzir de 4,5% para 4,25% a meta da inflação e essa era a posição na quarta feira. Segundo um auxiliar do presidente interino, Michel Temer, só na manhã de ontem, em reunião no Palácio do Planalto, é que foi tomada a decisão de ficar com 4,5% mesmo. Não houve embate entre a área econômica e a área política do governo.
A proposta da redução da meta de inflação surgiu na equipe econômica e a manutenção do índice também foi por ela decidida. O governo optou pelo índice mais conservador, até para mais tarde não ter que voltar atrás, se não conseguisse manter o objetivo fixado. "O que prevaleceu foi a posição da equipe econômica", assegurou um auxiliar do presidente interino.
De acordo com o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Carlos Hamilton Araújo, o CMN avaliou a conjuntura macroeconômica e concluiu ser oportuno fixar a meta em 4,5% para 2018. A redução da meta não foi considerada, disse ele.
"Os membros do CMN veem ambiente com incerteza e entendem que seria oportuno focar em convergir a inflação para meta em um trabalho que está sendo conduzido com competência pelo Banco Central", disse.
Ainda de acordo com o secretário, não chegou a ser discutida a possibilidade de redução da meta para 2018 e a decisão de manter em 4,5%, com banda de 1,5 ponto, foi tomada com unanimidade dos participantes. "Em nenhum momento foi discutida a redução da meta em 2018", disse.
"Os membros do CMN avaliaram a conjuntura doméstica e externa e há, de fato, muita incerteza no ambiente econômico e chegaram à conclusão de que era oportuno manter a meta em 4,5%, com 1,5 ponto de tolerância", disse.
Questionado sobre se essa decisão contribui para uma redução de juros pelo BC, Hamilton, que já foi diretor do Banco Central, disse que não faz mais parte do Copom e que não sabe o que o BC vai fazer em termos de política monetária.
Questionado se a questão fiscal foi considerada, Hamilton foi evasivo, apontando que a meta de déficit para este ano é de R$ 170 bilhões e que as metas para 2017 e 2018 precisam ser aguardadas.
Havia certa expectativa com relação à mudança da meta de 2018. Até o começo desta semana também não estava completamente descartada uma alteração, mas para cima, na meta de 2017, o que abriria espaço para redução mais célere da Selic. No entanto, a possibilidade foi descartada pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn, na apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Ilan reconheceu a validade da meta ajustada, mas não em momentos como o atual, no qual as expectativas apontam para convergência da inflação para a meta.
O RTI, no seu cenário de referência, mostra inflação de 4,7% no fim de 2017 e redução conforme se entra em 2018, com inflação de 4,2% no fim do segundo trimestres. Para 2016, a projeção é de inflação em 6,9%, ainda acima do teto de 6,5%.
De acordo com Ilan, o objetivo do BC é cumprir a meta de inflação estabelecida pelo CMN, mirando o seu ponto central, já que os limites de tolerância servem para acomodar choques inesperados na inflação, que não permitam a volta ao centro da meta em tempo hábil.
No regime de metas para a inflação, o CMN define uma meta a ser perseguida pelo BC com margem para acomodação de eventuais choques. O instrumento que o BC dispõe para cumprir a meta é a taxa básica de juros, calibrada para garantir o cumprimento da meta. O IPCA é o índice observado.
A última vez que o IPCA ficou na meta, por assim dizer, foi em 2009, quando marcou 4,31%, em todos os outros anos a inflação ficou dentro do limite superior, até marcar 10,67% em 2015. (Colaborou Raymundo Costa, de Brasília)
 

CMN mantém em 4,5% meta de inflação de 2018, e banda recua para 1,5 ponto em 2017.