Título: Boicote eleitoral enfraquece Morales
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Fonte: Correio Braziliense, 18/10/2011, Mundo, p. 17
Após receber duras críticas por uma repressão violenta contra índios, no fim de setembro, e sentir fortes impactos de uma crise interna em seu partido, a liderança de Evo Morales sofreu um significativo golpe nas urnas no domingo. Devido a um boicote realizado com votos nulos e brancos durante a primeira eleição popular de autoridades do Poder Judiciário, o presidente amargou a pior derrota desde que assumiu o cargo, há seis anos. Segundo especialistas, a magnitude do posicionamento dos cidadãos contra o governo é inédita e pode ser o começo do enfraquecimento da candidatura de Morales nas próximas eleições presidenciais.
Mesmo afirmando que conquistaria mais de 70% do apoio dos eleitores na votação, que pretendia ser a mais recente reforma para dar voz à população indígena — até então maior base popular do governo —, o partido governista Movimento ao Socialismo (MAS) conseguiu apenas 38% dos votos válidos que elegeriam 56 ministros para o Supremo Tribunal de Justiça, para os tribunais Constitucional e Agroambiental e para o Conselho de Magistratura. Mais da metade dos 5,2 milhões de bolivianos que compareceram às votações — cerca de 60%, de acordo com uma boca de urna preliminar — parece ter se comovido ao apelo da oposição, que apontava a convocatória como tentativa do governo de controlar o Judiciário e garantir maioria no Congresso. Entre os que se expressaram publicamente a favor do boicote estavam representações sociais como a Central Operária Boliviana e entidades de professores, mineiros e acadêmicos.
De acordo com especialistas ouvidos pelo jornal El Diário, a derrota de Morales reflete o desgaste político pelo qual seu partido vem passando, com renúncias de autoridades e formação de grupos opositores, além de ser uma reação à violência com que guardas do governo agiram ao reprimir um protesto indígena contra a construção de uma estrada na Amazônia boliviana. "Isso nunca tinha acontecido na história do país. Os votos nulos na Bolívia nunca excederam 10%", ressaltou o analista Jorge Lazarte. Na opinião do cientista político Edwin Quiroz, a situação é ainda mais delicada. "A presença intensa de votos nulos demonstra a rejeição dos cidadãos não apenas a um partido, mas ao presidente e ao vice."
Validade Para a oposição, o resultado do protesto foi um "triunfo do povo" a favor da liberdade. De acordo com o ex-candidato à Presidênc ia Samuel Medina, a soma dos votos brancos e nulos invalida a posse dos juízes devido à falta de "legitimidade" do processo. Entretanto, o presidente do Tribunal Eleitoral boliviano, Wilfredo Ovando, afirmou que os votos brancos e nulos são apenas estatísticos e não anulam o resultado.
Evo Morales cumprimentou os cidadãos pelo resultado, assumiu a falta de informação no processo eleitoral, porém, evitou mencionar os resultados. "Parabéns por essa vontade democrática! Lamentavelmente, faltou mais informação, mais socialização", pontuou.