Valor econômico, v. 17, n. 4042, 07/07/2016. Política, p. A6

Moraes descarta general na Funai

Por: Andrea Jubé / Daniela Chiaretti

Por Andrea Jubé e Daniela Chiaretti | De Brasília e São Paulo

 

O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, negou ontem que o general da reserva Sebastião Peternelli, que apoiou o golpe militar de 1964, assumirá a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai). Pouco antes da negativa de Moraes, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, havia confirmado a indicação do general pelo PSC para a vaga, mas ressalvou que o nome ainda passaria pelo crivo da pasta da Justiça, à qual o órgão está vinculado.

As lideranças do Partido Social Cristão (PSC) ficaram surpresas com a declaração de Moraes e confirmaram o interesse pelo cargo. "É um lugar onde podemos desenvolver um trabalho de gestão e de oportunidade para a população indígena e desenvolver os direitos da população indígena à saúde e educação", disse ao Valor PROum membro do partido. O nome do general Peternelli teria sido costurado pelo líder do governo na Câmara, deputado André Moura (PSC-SE).

A repercussão do nome do militar foi muito negativa entre diversas lideranças indígenas. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), uma das principais organizações indígenas do país, divulgou uma nota de repúdio ao nome do general. A Funai teve vários presidentes militares durante o golpe e até os anos 90. Nos governos Fernando Henrique, Lula e Dilma, a presidência da Funai foi sempre ocupada por um antropólogo, advogado ou alguém ligado às questões indígenas.

O cacique Aruã Pataxó, que representou a etnia em reunião no Planalto, disse que os índios também não queriam o general, porque viveram "tempos de horrores" na ditadura militar. Moraes deu entrevista após se reunir com índios das etnias Tupinambá e Pataxó, do sul da Bahia, junto com Geddel e o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Antes de Moraes falar com a imprensa, o ministro Geddel Vieira Lima confirmou a indicação de Peternelli, disse que o nome havia passado pelo crivo da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e afirmou que a vaga seria do PSC.

Após a reunião com os índios, o ministro da Justiça observou que busca outro perfil para a vaga. "Não há nenhum óbice ao nome que foi indicado, não há nenhum veto pessoal, ele foi indicado pelo PSC, mas não será ele o presidente da Funai", disse. "Já estamos em negociação com outro tipo de perfil", completou. Segundo Moraes, o ministério busca um nome que tenha um "histórico de diálogo" com as comunidades indígenas.

Contrariando afirmação de Geddel, Moraes negou que a vaga esteja reservada para o PSC. "Não há lugar reservado para partido em determinada fundação, autarquia ou secretaria do ministério", afirmou. Ele acrescentou que estuda nomes indicados pelas comunidades indígenas.