Valor econômico, v. 17, n. 4042, 07/07/2016. Política, p. A10

Operação derruba direção da Eletronuclear

Por: Robson Sales/ Cláudia Schüffner / Letícia Casado

Por Robson Sales, Cláudia Schüffner e Letícia Casado | Do Rio e de Brasília

 

A Operação Pripyat, deflagrada ontem pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro, aprofundou as investigações de propina na Eletronuclear que as investigações apontam como pagas por meio de contratos firmados pela Andrade Gutierrez com a Engevix, Tridimensional Engenharia e outras. Elas foram responsáveis pelo projeto, construção e montagem da usina nuclear Angra 3.

Mesmo em prisão domiciliar, o ex-presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, segundo o Ministério Público, mantinha sua influência dentro da estatal, interferindo nas investigações, e por isso a Justiça reforçou a punição e tornou a prisão preventiva. O presidente da Eletronuclear, Pedro José Diniz Figueiredo, foi afastado do cargo e conduzido coercitivamente porque teria favorecido Othon Pinheiro e interferido no andamento das investigações que eram chefiadas por uma comissão interna, segundo o MPF.

Foram identificados pagamentos de R$ 1,2 bilhão pela Andrade Gutierrez, sendo que o procurador Lauro Coelho Junior, 4% foram distribuídos entre funcionários de primeiro e segundo escalão da estatal, incluindo a presidência, diretores e superintendentes. O delegado Tácio Muzzi, chefe da Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros (Delecor) da PF no Rio, disse que o esquema pode ter resultado em propinas de R$ 48 milhões. Esses recursos teriam sido divididos com políticos que têm privilégio de foro e estão sendo investigados pela Procuradoria-Geral da União (PGR). A investigação apontou que Othon teria recebido cerca de R$ 12 milhões em propina, o equivalente a 1% do contrato com as empreiteiras.

De acordo com as investigações, outros 1,2% seriam divididos entre Luiz Soares, Edno Negrini, Persio Jordani, Luiz Messias e José Eduardo Costa Mattos. A investigação de valores pagos a políticos cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Pripyat é um desdobramento da Operação Lava-Jato e levou a prisão preventiva de outros cinco ex-funcionários da Eletronuclear. Além deles, Adir Assad, apontado como um dos principais operadores do esquema de caixa dois, também está preso. Assad já tinha o nome ligado às Operações Saqueador e Abismo.

A base da operação ontem foram as delações premiadas de quatro ex-executivos da Andrade Gutierrez. Rogério Nora, Clóvis Primo, Flavio Barra e Gustavo Botelho revelaram o pagamento de propina na Eletronuclear.

O Ministério Público pediu o bloqueio de contas bancários dos envolvidos. Os ex-diretor da Eletronuclear, Luiz Antonio de Amorim Soares, além de Edno Negrini, Persio José Gomes Jordani, Luiz Manuel Maral Messias e outros que ocuparam postos no alto escalão, tiveram a prisão preventiva decretada.

De acordo com a denúncia, alguns dos investigados recebiam a propina em dinheiro vivo por meio de contratos fictícios pagos pela Andrade Gutierrez a empresas de fachada. Entre elas a Flexsystem Sistemas e Flexsystem Engenharia, a WW Refrigeração e Reformas e a AEM Serviços de Engenharia, sociedade que detém 100% do capital da Tridimensional. Essas empresas tiveram decretada a quebra do sigilo bancário e fiscal, assim como de seus representantes legais. Outras empresas que participaram do esquema, segundo o MPF, foram a Eval, Legend, SP Terraplanagem e JSM Engenharia.

Além das delações da Andrade Gutierrez ele apareceu também nas investigações da empresa de engenharia Delta e outras. Investigadores declararam ontem estar impressionados com a movimentação de R$ 260 milhões envolvendo Assad, que está preso no Rio. A investigação na Eletronuclear levantou que, entre 2008 e 2014, a Andrade Gutierrez "promoveu sistemático pagamento de propina", disseram os investigadores.

A Operação Pripyat foi deflagrada ontem para "robustecer" a investigação sobre a participação de funcionários da área administrativa e sobre os operadores financeiros o "modus operandi" para a lavagem de dinheiro na Eletronuclear. As investigações apontam também para o ex-diretor da Eletrobras, Valter Cardeal, que sempre teve sem nome ligado à presidente afastada Dilma Rousseff.

Cardeal é apontado como negociador de descontos nos contratos com as empreiteiras para montagem da parte eletromecânica de Angra 3, mas sua participação ainda não foi esclarecida.