08/07/2016
O avanço da Lava Jato obrigou o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a renunciar ontem à presidência da Câmara dos Deputados. Com a decisão, Cunha fez uma última tentativa de salvar seu mandato e evitar que as ações e inquéritos dos quais é alvo no Supremo Tribunal Federal sejam remetidos ao juiz Sérgio Moro, responsável pela operação em Curitiba. Ele já é réu em dois processos penais na Corte acusado de receber propinas em contas secretas na Suíça e por contratos de navios-sonda da Petrobrás.
Na prática, a renúncia poderá adiar ainda mais o fim do processo de cassação do mandato de deputado do peemedebista na Câmara, que já se arrasta há 249 dias. Ontem mesmo ele protocolou um pedido para paralisar a análise do recurso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa e retomar, da estaca zero, a apreciação do processo no Conselho de Ética. A justificativa da defesa de Cunha é de que ele, agora, é apenas deputado afastado e não mais o presidente da Câmara suspenso de suas funções. A CCJ adiou de segunda-feira para terça-feira a análise do recurso de Cunha, no mesmo dia em que foi marcada a escolha do novo presidente da Casa. A expectativa, portanto, é de que a votação do pedido de cassação seja conduzida já pelo novo presidente da Câmara. Catorze deputados já se apresentam para disputar um mandato-tampão até fevereiro de 2017.
A renúncia foi anunciada no início da tarde com a leitura de uma carta no Salão Nobre do Congresso, um ano e cinco meses depois de ser eleito e pouco mais de dois meses após ser afastado do cargo pelo Supremo. Mesmo suspenso do mandato, o peemedebista manteve o foro privilegiado. No pronunciamento, Cunha usou o discurso da vitimização, ficou com a voz embargada e expressão de choro no fim da leitura. Disse sofrer perseguição pelas agendas que adotou – sua gestão foi marcada pelas pautas-bomba e conservadoras – e disse que estava “pagando um alto preço por ter dado início ao impeachment” da presidente afastada Dilma Rousseff. Alegou que renunciava para encerrar uma “interinidade bizarra” de uma Câmara “acéfala”.