Planalto vê saída como 'melhor dos mundos'

Tânia Monteiro, Carla Araújo, Eduardo Rodrigues, Adriana Fernandes, Rachel Gamarski e Idiana Tomazelli

 

08/07/2016

 

 

DECISÃO NA CÂMARA - Para governo, renúncia de Cunha coloca em foco votações importantes no Congresso

A renúncia do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara e a convocação das eleições para a sucessão do peemedebista foram “o melhor dos mundos”, na avaliação de interlocutores do Planalto.

Para o governo, a indefinição na Casa gerou um entrave para a votação de medidas importantes pelo Congresso.

O discurso oficial é de que a gestão Michel Temer não vai interferir na disputa, embora o presidente em exercício defenda uma solução de consenso entre os partidos da base aliada.

Temer recebeu na noite de ontem o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA). O deputado, que pediu a audiência no Palácio do Planalto, foi atropelado pelos líderes da base aliada, que ignoraram a sua decisão de promover a eleição para a presidência da Casa na quinta-feira e anteciparam a votação para a próxima terça-feira.

Maranhão não se conformou com a decisão da maioria do colégio de líderes e foi apelar ao presidente em exercício. O encontro ocorreu por volta das 21h e a conversa com Temer não foi demorada.

No Planalto, a avaliação é de que “o momento do governo tem de ser de observação para que não saia chamuscado ou até derrotado” nesse período.

A intenção é ter tempo para “sentir o pulso” dos acontecimentos, aguardando as negociações dos partidos em torno dos nomes que se credenciam para a disputa.

Um interlocutor presidencial observou que há uma divisão muito grande entre os partidos da base aliada e, se o Palácio do Planalto entrar opinando neste momento, “pode acabar prejudicado”.

‘Unidade’. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que o governo “não tem preferência nem rejeição” por nenhum candidato para suceder a Cunha. “O que interessa é unidade de sua base de sustentação, de nenhuma forma o governo vai procurar interferir (no processo de sucessão)”, disse ontem, durante coletiva no evento de anúncio da meta fiscal de 2017.

Padilha reforçou o discurso protocolar de que questões do Legislativo devem ser resolvidas no Legislativo. Para o ministro, durante o tempo de afastamento de Cunha as votações na Câmara foram conduzidas com “absoluta normalidade”.

O ministro, porém, não citou a derrota sofrida anteontem no Congresso, quando o governo não conseguiu aprovar a urgência para o projeto que trata da renegociação das dívidas dos Estados com a União.

Xadrez. Para o Planalto, a saída de Cunha da presidência da Câmara foi “um alívio”, mas o governo sabe que tem um complicado xadrez a enfrentar pela frente. O PMDB já indicou que também vai pressionar por um candidato. Os dois principais nomes da legenda para o cargo, neste momento, são Osmar Serraglio (PR) e Marcelo Castro (PI).

O fato de Cunha ter declinado sua preferência por Rogério Rosso (PSD-DF) acabou por prejudicar a sua imagem.

Aliados de Temer esperam que as candidaturas, que hoje somam 14, se afunilem. “Quem tiver capacidade de buscar o consenso em seu partido, sairá na frente, neste processo de sucessão, assim como o partido que tiver capacidade de aglutinar mais legendas em torno do seu candidato, certamente poderá liderar o processo”, disse outro auxiliar direto do presidente em exercício.

Em várias conversas mantidas com integrantes do Planalto, Cunha queria o governo como “fiador” de que não teria o seu mandato cassado. Os movimentos do governo Temer eram, em todos os momentos, de demonstrar que ele não estava sendo abandonado, mas que também não estava tão próximo assim do governo.

O Planalto, no entanto, de acordo com interlocutores de Temer, alegou que não teria como orientar votos de aliados para salvar o peemedebista, ainda mais quando há uma forte pressão da opinião pública pedindo sua saída definitiva do cenário político.

“O que interessa é unidade de sua base de sustentação (governo Temer), de nenhuma forma o governo vai procurar interferir (no processo de sucessão).”

Eliseu Padilha

MINISTRO DA CASA CIVIL.