Citação de empresa liga Lobão a vice-almirante

 
07/07/2016
Fabio Serapião

 

Duas empresas apontadas como de fachada pelas investigações da Lava Jato ligam o ministro de Minas e Energia nos governos Lula e Dilma, Edison Lobão (PMDB), ao expresidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva, preso novamente ontem no Rio pela Polícia Federal, durante a Operação Pripyat.

A AP Energy, citada na delação premiada do ex-diretor da Camargo Corrêa Luiz Carlos Martins como responsável por repassar propina a Lobão, aparece na quebra de sigilo da Link Projetos e Participações que, segundo o Ministério Público Federal, foi utilizada para repassar vantagens indevidas ao expresidente da Eletronuclear. A delação do ex-executivo da Camargo embasa um inquérito contra o ex-ministro aberto pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

No pedido que originou a primeira prisão de Othon, em julho de 2015, o MPF afirmou que existiam “evidências de que a Link Projetos e Participações foi efetivamente utilizada pela Engevix Engenharia apenas para repassar vantagens indevidas ao investigado, não tendo prestado quaisquer serviços”.

Na quebra de sigilo da Link, o MPF detalha 88 transações financeiras com a AP Energy entre 2010 e 2014. No total, as movimentações bancárias somam R$ 2,1 milhões.

Para os investigadores, tanto a Link como a AP Energy existem apenas no papel e eram utilizadas para escoar propina. A primeira tem como sócio o empresário Victor Sérgio Colavitti. Após a 16.ª fase da Lava Jato, em que a empresa foi alvo, Colavitti assinou um acordo de delação premiada e assumiu ter firmado contratos fictícios com a Engevix com o objetivo de mascarar os repasses para a Aratec Consultoria, em nome da filha e do genro de Othon.

Ele declarou ter pago R$ 765 mil para a Aratec no mesmo período em que foram identificadas as movimentações relacionadas à AP Energy.

A empresa de Colavitti integra um núcleo formado por ao menos outras três companhias suspeitas de firmar contratos fictícios com empreiteiras. A finalidade destes contratos, segundo afirmam os procuradores, seria “esquentar” a propina endereçada a agentes públicos.

 

Ex-ministro. Além da delação sobre a propina destinada à Lobão via AP Energy, outros depoimentos reunidos pela Lava Jato apontam para atuação do ex-ministro em desvios em obras do setor elétrico. Entre eles está a delação de Flávio Barra, ex-executivo da Andrade Gutierrez, que relatou pedido do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, “em nome de Lobão”, para que empresários doassem ao PMDB. O pedido, disse o delator, ocorreu durante reunião de empreiteiros sobre as obras de Angra 3.

 

Defesas. O advogado de Colavitti não respondeu ao contatos da reportagem. O advogado de Edison Lobão, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que as delações citadas são genéricas e desprovidas de sentido. Sobre a AP Energy, o advogado informou que Lobão “sequer conhece a empresa”. O Estado não encontrou os sócios da AP Energy nos telefones em nome da empresa

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Empresário é solto após pagar fiança de R$ 1 mi

 

07/07/2016
Fausto Macedo
Julia Affonso
Ricardo Brandt

 

O Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) mandou soltar ontem o empresário Ronan Maria Pinto, de Santo André, mas estabeleceu algumas regras. A decisão foi tomada por unanimidade pelos desembargadores que acolheram pedido de habeas corpus. Além de pagar fiança de R$ 1 milhão, ele terá de usar tornozeleira eletrônica, comparecer em juízo a cada três meses e ficar recluso em sua residência nos finais de semana e à noite.

Ronan Maria Pinto foi preso na Operação Carbono 14, desdobramento da Lava Jato, em 1.º de abril. Quatro dias depois, a pedido do Ministério Público Federal, o juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato na 1.ª instância, converteu a custódia temporária em preventiva. O empresário é investigado por ser destinatário final de R$ 6 milhões de um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões do Banco Schahin para o pecuarista José Carlos Bumlai.

 

O Estado de São Paulo, n. 44823, 07/07/2016. Política, p. A7