Título: Centenários prestam contas
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 18/10/2011, Cidades, p. 21

O arquiteto Oscar Niemeyer faz parte de um restrito grupo de aposentados ou pensionistas do GDF com mais de 100 anos. Essa, aliás, é uma turma que, segundo o presidente do Iprev-DF, Jorgivan Machado, requer uma atenção especial por parte das autoridades. "É muito difícil passar dos 100 anos. Então gera uma certa desconfiança quando se trata de pensionista ou aposentado que declara ter mais de um século de vida. Nesses casos, ficamos muito atentos", avisou Machado.

Foi assim no caso de Manoel Avelino da Nóbrega, que completará 101 anos em 11 de janeiro. Pensionista da Secretaria de Saúde, ele mora em Natal (RN) e recebe quase R$ 6 mil do GDF, dinheiro que ajuda a bancar sua rotina, que hoje requer assistência 24 horas. Mas esse valor foi cortado em maio deste ano, depois que o pensionista centenário caiu na malha dos que não tinham atualizado os dados no banco do Iprev. Foi aí que Marinez, filha de 70 anos de Manoel, veio a Brasília pessoalmente resolver a pendência. Trouxe fotos do aniversário de 100 anos do pensionista para provar a existência do pai.

Não foi suficiente. Ainda faltava a declaração de vida. O documento deu trabalho para Marinez, pois a polícia — que poderia ter dado o tal atestado — entrou em greve na época. A declaração acabou sendo feita por uma médica cardiologista que cuida de Manoel. E depois de cartas, declarações, fotos e o testemunho de familiares, o pagamento voltou a cair na conta do pensionista. "Eu até coloquei o meu pai para falar no telefone com o pessoal do Iprev, tudo para mostrar que ele estava vivo", conta Marinez.

Vigília constante Contemporânea de Manoel Avelino, a pensionista Ana Soares do Couto Rangel, 100 anos, também conta com o pagamento do GDF para prolongar sua existência. Ela mora em Cambuquira (MG), no Lar dos Velhinhos Irmã Marieta. Com mal de Alzheimer, precisa da vigília de duas cuidadoras que se revezam nas madrugadas. O tesoureiro da instituição, José Dias da Silva, avalia que a condição financeira de Ana contribui para a longevidade da pensionista do GDF. José foi um dos que ajudou a recolher os documentos para provar ao governo que ela completou 100 anos.

Até Niemeyer, cuja história de vida se confunde com a de Brasília — ele já era cinquentão quando começou a esculpir a capital em meio ao cerrado —, teve de prestar contas ao Iprev. "Os trabalhadores que fizeram Brasília estão aposentados. Agora é a vez de a nova geração carregar esse bastão. Bem ou mal, cumprimos nosso papel. Tenho orgulho de ser um aposentado que construiu a capital", explicou Niemeyer.

O arquiteto, que não gosta de viajar de avião, delegou um procurador para atualizar os dados dele no cadastro oficial. Amigo pessoal de Oscar, o ex-secretário de Cultura Silvestre Gorgulho guarda de recordação o documento que lhe permitiu confirmar os 103 anos, bem vividos, do projetista da capital. Entre os documentos que Silvestre apresentou ao Iprev está a certidão de casamento de Oscar. Consta que, aos 98 anos, ele se casou com Vera Lúcia Cabreira. Prova de que está vivíssimo. "O importante é o aposentado cultivar velhas amizades e continuar trabalhando de acordo com suas forças para fugir do tédio e da depressão", disse o arquiteto. (LT)