PF vê ‘dupla lavagem’ de banco do Panamá

Ricardo Brandt, Fausto Macedo, Vitor Tavares, Julia Affonso e Mateus Coutinho

08/07/2016

 

 

Nova fase da Lava Jato investiga esquema financeiro usado para ocultar propinas.

A Polícia Federal deflagrou ontem a 32.ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Caça- Fantasmas, que teve como objetivo desmantelar um suposto esquema financeiro montado para lavar dinheiro desviado da Petrobrás. O principal alvo da operação foi Edson Paulo Fanton, representante no Brasil do FPB Bank do Panamá, que foi levado para depor em Santos, no litoral de São Paulo, e depois liberado.

Ao todo, foram cumpridos sete mandados de condução coercitiva e dez mandados de busca e apreensão em três cidades.

Além de Santos, os agentes também estiveram em São Bernardo Campo e em São Paulo. Ninguém foi preso.

Segundo a PF, as investigações identificaram que representantes da instituição financeira atuavam ilegalmente no Brasil abrindo e gerindo contas, em parceria com o escritório panamenho Mossack Fonseca, especialista em abertura de empresas offshores, em uma engrenagem que os investigadores chamaram de “dupla camada de lavagem”. O banco panamenho não tem autorização do Banco Central para atuar no País.

“Os funcionários do banco panamenho no Brasil, além de atuarem de forma clandestina, garantiam anonimato aos seus clientes, pois, a partir da constituição das offshores, abriam e gerenciavam contas bancárias no exterior em seus nomes, permitindo a ocultação dos valores”, explicou a procuradora da República Jerusa Viecili, da força- tarefa da Lava Jato.

De acordo com a investigação, pelo menos 44 offshores abertas pela Mossack Fonseca, que teriam relação com o FPB Bank, foram usadas no esquema de lavagem. Há a suspeita de que réus no caso de desvios da Petrobrás tenham utilizado a engrenagem financeira para ocultar propinas da estatal. Entre eles, dois ex-diretores ligados ao PT e dois operadores financeiros são investigados.

“O destaque dessa operação é a complexidade e a sofisticação do método utilizado de ocultação de recursos, possivelmente, ilícitos. Além da constituição dessas offshores, que era feita pela Mossack Fonseca, em paraísos fiscais, havia também a ocultação dos reais beneficiários desse dinheiro nesse banco que atuava clandestinamente no Brasil”, disse a procuradora.

A Lava Jato ainda não sabe qual valor transitou pelo FPB Bank nesse esquema, nem quem são os beneficiários.

Fartura. O delegado federal Igor Romário de Paula, da força- tarefa da Operação Lava Jato, apontou “fartura de dinheiro sujo no País”. “Esse tipo de estrutura surge diante da fartura de dinheiro sujo que tem no País. Esse dinheiro precisa ser movimentado, precisa de patrimônio, precisa ser lavado, ocultadas as suas origens e é nesses espaços que crescem situações como essa”, afirmou.

A 32.ª fase é um desdobramento da 22.ª fase da Lava Jato, a Triplo X, que teve como alvo a atuação da Mossack Fonseca na ocultação de proprietários dos imóveis do Edifício Solaris, no Guarujá, no litoral paulista. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é investigado pela ligação a um dos imóveis. Em documentos apreendidos na ocasião, a instituição financeira panamenha é apontada como cliente e constam como referência exatamente os funcionários do banco que atuam no País.

A investigação aponta que os funcionários do banco no Brasil, além de atuarem de forma clandestina, garantiam anonimato aos seus clientes.

Defesa. O advogado Roberto Pagliuso, que defende Edson Fanton, nega que seu cliente seja representante do banco panamenho no Brasil. “Ele aguarda que as diligências possam comprovar que essa acusação não é verdadeira”, disse o advogado.

A reportagem tentou entrar em contato com a Mossack Fonseca e enviou perguntas aos e-mails indicados no site do FPB Bank do Panamá, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.

‘CAÇA-FANTASMAS’

● 32ª fase da Lava Jato investiga um grupo que operou no Brasil, sem autorização, o banco panamenho FPB, e usou os serviços da Mossack Fonseca – alvo anterior da operação – para constituir offshores

1 FPB Bank

Representantes do banco panamenho no Brasil abriam e geriam contas, em parceria com o escritório também panamenho Mossack Fonseca, especialista em abertura de offshores

Foram identificadas 44 offshores constituídas pela Mossack por solicitação dos funcionários do banco FPB

2 Agências ‘fantasmas’

Sete brasileiros, que constam nos registros de representantes do FPB Panamá, eram os responsáveis pelas “agências” brasileiras não autorizadas pelo Banco Central

Alvos da Lava Jato já disseram ter usado a Mossack para abrir offshores como forma de ocultar dinheiro de corrupção

3 Offshores

O FPB buscava clientes e oferecia a abertura das contas fora do Brasil, via agência formal do Panamá, e fornecia a offshore, aberta pela Mossack Fonseca, para registro da conta

A suspeita, agora, é de que a estrutura de lavagem do FPB tenha sido usada para ocultar dinheiro desviado da Petrobrás

4 Lavagem ‘terceirizada’

Os representantes do FPB Bank, além de buscar clientes no Brasil, faziam o serviço de controle e de gerenciamento da conta mantida pela offshore em paraíso fiscais

A investigação aponta dupla camada de lavagem: primeiro, por meio de offshore; depois, pelo FPB, que gerenciava a conta dessa offshore.