Líderes negociam 'anistia' a partidos no pós-Dilma

José Casado

27/08/2016

 

 

Soterradas pela Lava-Jato, legendas discutem reforma política que pode ter efeito de isentá-las de punição

No Congresso fracionado em 27 partidos políticos só se pensa no “dia seguinte” ao desfecho do processo de impeachment de Dilma Rousseff, na próxima semana, e às eleições municipais, em outubro.

Líderes do governo e da oposição negociam uma reforma político-partidária com o objetivo de abrir caminho à refundação dos partidos. As novas regras partidárias seriam votadas depois das eleições municipais com vigência já no próximo ano.

As normas para recriação teriam o efeito prático de uma anistia, principalmente para as organizações políticas que hoje estão soterradas por múltiplos inquéritos judiciais sobre corrupção e lavagem de dinheiro em campanhas eleitorais.

PROCESSOS NO TSE

Três partidos (PT, PMDB e PP), que hoje detêm o controle de 38% dos 584 votos disponíveis no plenário do Congresso, começaram o mês de agosto sob investigação do Tribunal Superior Eleitoral por uso de dinheiro desviado dos cofres da Petrobras para financiamento das respectivas campanhas eleitorais no período entre 2006 e 2014.

“Há indícios de práticas ilegais tanto por parte do PT, quanto pelo PP e pelo PMDB”, atestou a ministra Maria Thereza de Assis Moura, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao determinar a ampliação dos inquéritos, há duas semanas.

A ministra acrescentou, em despacho: “Uma vez comprovadas tais condutas, estaríamos diante da prática de crimes visando a conquista do poder e/ou sua manutenção, nada muito diferente, portanto, dos períodos bárbaros em que crimes também eram praticados para se atingir o poder. A mera mudança da espécie criminosa não altera a barbaridade da situação.”

Alguns juízes anteveem como provável a condenação de partidos por financiamento de campanhas com operações de lavagem do dinheiro roubado da empresa estatal por seus fornecedores privados.

 

 

O globo, n. 30336, 27/08/2016. País, p. 5.