Dilma fez 'despedalada fiscal', afirma Belluzzo

27/08/2016

 

 

Economista criticou política da presidente afastada

No segundo dia do julgamento da presidente afastada Dilma Rousseff, o Senado ouviu ontem três pessoas indicadas pela defesa da petista. Primeiro a falar, o economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo disse que a presidente afastada Dilma Rousseff fez uma “despedalada fiscal” e não uma “pedalada”, ao promover contingenciamentos e ajuste fiscal em 2015 e não gastança num momento de contração da economia.

A explanação foi rápida, após a base do governo Michel Temer informar que não faria questionamentos para acelerar o julgamento.

— Em 2015, houve uma “despedalada fiscal". Em 2014, senti claramente que o ajuste fiscal teria as consequências que teve, até imaginei que o PIB fosse cair 2,5% e errei (a queda foi de 3,8%). Se formos olhar a política fiscal em 2015, ela levou a uma contração brutal da receita, porque a economia vinha desacelerando. É como o pugilista que vai para o córner e o treinador, para reanimá-lo, lhe dá um soco na cabeça — comparou Belluzzo, ouvido como informante.

— Chamei de desajuste do ajuste. Essa pedalada não aconteceu — disse Belluzzo.

As críticas geraram ironia de senadores pró-impeachment presentes no plenário.

— Só para avisar que é uma testemunha de defesa. Esse seminário de economia com críticas à política econômica da Dilma é da defesa — disse o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB).

Na retomada da sessão, o professor de Direito Geraldo Prado disse que não há como desconfiar de participação de Dilma nas pedaladas fiscais.

— Ninguém no lugar dela faria algo diferente, não havia um fiapo para se desconfiar que alguma coisa estava efetivamente fora de lugar — disse, questionado sobre o senador Cristovam Buarque (PPS-DF).

Geraldo Prado afirmou ainda que não há embasamento jurídico para dizer que a petista tenha cometido crime de responsabilidade.

— Quando se afirma que há ou não um crime, quem faz essa afirmação tem uma enorme responsabilidade de fazê-la com embasamento na ciência do direito, e com todo respeito não me parece que a ciência do direito ofereça embasamento para dizer que houve crime de responsabilidade — disse o professor de Direito.

No fim da noite, foi vez de o ex-secretário-executivo do Ministério da Educação Luiz Cláudio Costa ser ouvido pelos senadores. (Cristiane Jungblut, Eduardo Bresciani, Evandro Éboli, Isabel Braga, Leticia Fernandes e Maria Lima)

 

 

O globo, n. 30336, 27/08/2016. País, p. 7.