Valor econômico, v. 17, n. 4043, 08/07/2016. Política, p. A6

RENÚNCIA DE CUNHA DIVIDE BASE GOVERNISTA

Por: Raphael Di Cunto / Thiago Resende

Por Raphael Di Cunto e Thiago Resende | De Brasília

 

A renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à Presidência da Câmara dos Deputados deixa a Casa frente a uma eleição pulverizada, com pelo menos dez nomes da base aliada se lançando candidatos, mas parlamentares com alguns mandatos nas costas avaliam que o quadro afunilará. Hoje, os quatro nomes mais fortes são do líder do PSD, Rogério Rosso (DF), do segundo-vice-presidente da Casa, Fernando Giacobo (PR-PR), de Heráclito Fortes (PSB-PI) e Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A disputa principal, que começou logo para decidir o dia da votação, é dentro da base do presidente interino Michel Temer: o centrão (PP, PR, PSD, PTB, PRB, PSC) e a antiga oposição (PSDB, DEM, PPS e PSB) não se entendem. Mesmo esses grupos, porém, veem brotar candidatos e, num quadro com vários "anões" concorrendo, ganha força para ir ao segundo turno um nome da oposição (PT, PCdoB e PDT), que contaria com 100 votos de largada.

Embora diga publicamente que não interferirá na disputa, o governo Temer não descarta intervir se a base entrar em guerra. Não há candidato natural, principalmente porque o PMDB perdeu protagonismo na Câmara durante a gestão Cunha, que preferiu distribuir os postos de maior destaque para outras legendas. O líder do partido, Baleia Rossi (SP), está no primeiro mandato e tem menos de dois meses na função - embora ligadíssimo a Temer, é pouco conhecido entre os deputados.

A briga entre os governistas teve início já na hora de marcar a data da eleição. O interino Waldir Maranhão (PP-MA), que está contra o centrão, convocou sessão para quinta-feira, mas deputados desconfiam que ele pretende alguma manobra para sair de recesso antes da eleição e, com isso, ganhar mais duas semanas no comando da Casa.

O centrão, grupo construído por Cunha, e o líder do governo, André Moura (PSC-SE), saíram em defesa de uma eleição expressa e, por maioria em uma reunião de líderes convocada à revelia de Maranhão, a convocaram para terça-feira. Ex-oposicionistas e a nova oposição se retiraram da reunião alegando que a manobra visa salvar Cunha, pois a nova data coincide com a sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que analisaria o processo de perda de mandato do ex-presidente da Câmara. Deputados do PSDB, PSB, DEM e também do Rede ainda pretendem questionar a data marcada para a eleição.

O centrão tem pressa. Acredita que, se demorar, articulação paralela poderia enfraquecer o principal candidato do grupo, que é Rosso. Para evitar uma disputa pulverizada, vão buscar apoio em torno dele, que tem a simpatia da maioria dos líderes dessa ala e, como ressaltam muitos deputados, não está envolvido em investigação da Lava-Jato nem tem inquéritos criminais - critério que excluiu parte dos pretendentes. O consenso, porém, se mostra bem difícil.

A lista de "pré-candidatos" do centrão é grande: Beto Mansur (PRB-SP), Esperidião Amin (PP-SC), Milton Monti (PR-SP), Carlos Manato (SD-ES) e, o considerado mais resistente a retirar candidatura, Giacobo (PR-PR). Ex-relator do processo de cassação de Cunha, o deputado Fausto Pinato (PP-SP) já protocolou o documento para disputar a vaga.

Cunha quer alguém capaz de unir novamente o grupo - disperso depois que o pemedebista foi afastado. Rosso é visto como o candidato com mais chances de fazer isso. Ele, por enquanto, nega intenção de concorrer. Aliados dizem que faz parte da estratégia. Só se lançará quando tiver o apoio necessário. Rosso não participou do ato de renúncia de Cunha e tem evitado uma ligação direta com o pemedebista.

Uma possível pulverização de candidatos do centrão abriria margem para o grupo não se eleger. A atual oposição (PT, PDT, PCdoB) discute com PSDB, DEM, PSB e PPS. Mesmo se eles não se aliarem, haveria chance de os votos do centrão se dividirem e nenhum representante dessa ala ir para o segundo turno - hoje - dado como certo entre parlamentares. Teriam que se aliar a um dos lados e perder protagonismo, acabando com o bloco.

Assim, líderes do centrão vão procurar ainda os tucanos e democratas, apesar da divisão ocorrida ontem no debate sobre a data da nova eleição.

A antiga oposição, contudo, também não se decidiu em torno de um único nome e aparecem pré-candidatos: além de Rodrigo Maia (DEM) e Heráclito Fortes (PSB), Júlio Delgado (PSB-MG) e José Carlos Aleluia (DEM-BA) já pedem votos abertamente. Apostam que o centrão tem os líderes, mas as bancadas estão divididas, e o voto é secreto.

Muitos deles já haviam começado campanha antes mesmo de Cunha renunciar, como Heráclito, Delgado e Giacobo - que, nas palavras de deputados, gostou de presidir a Câmara. Segundo-vice-presidente, Giacobo assumiu, em parte, o comando da Casa com a rejeição a Maranhão.

Paralelamente corre o PMDB. Osmar Serraglio (PR), Sérgio Souza (PR) e Marcelo Castro (PI) já se colocaram à disposição. Mas, por enquanto, com articulação desaquecida. Pemedebistas, divididos em vários grupos, contam com dissidentes do centrão para eventual candidatura.

Segunda maior bancada da Casa, o PT avalia se lançará nome próprio ou apoiará outro partido. Líder da bancada, Afonso Florence (BA) já manifestou interesse para que seja um nome que não votou pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Mas isso causou mal-estar na oposição. Rede e PDT criticam essa ideia. Veem esse movimento como apenas para marcar posição na disputa, já que o candidato não teria chance de se eleger. Defendem, então, a escolha pelo perfil, alguém comprometido a dar espaço aos oposicionistas.