Planalto desiste de nome de consenso na Câmara

 

12/07/2016
Tânia Monteiro
Carla Araújo
Bernardo Caram
Daiene Cardoso
Erich Decat
Julia Lindner
Pedro Venceslau
Vera Rosa

 

Às vésperas da votação para eleger o sucessor de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara dos Deputados, o Palácio do Planalto desistiu da ideia de tentar um candidato de consenso para pacificar a base aliada e se convenceu de que um segundo turno será inevitável.

A contabilidade que chegou ao governo ontem à noite indicava que o líder do PSD e um dos nomes do Centrão, deputado Rogério Rosso (DF), liderava a disputa, com o dobro de votos de Rodrigo Maia (DEMRJ).

Maia ficou praticamente sem o apoio do PT.

A votação está marcada para amanhã. A estimativa é de que Rosso teria cerca de 200 votos contabilizados. Fernando Giacobo (PR-PR), também do Centrão, grupo formado por 13 partidos, estaria em terceiro lugar nas intenções de votos. Para vencer em primeiro turno, o candidato precisa da maioria dos votos dos presentes.

Com a experiência de ter ocupado a presidência da Câmara por três vezes, o presidente em exercício Michel Temer abriu espaço na agenda para exercer o “papel de ouvinte”. Com alguns candidatos conversou pessoalmente no Planalto ou no Jaburu e, com outros, por telefone.

No domingo, o presidente em exercício recebeu para jantar o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o líder do partido na Câmara, Antônio Imbassahy (BA). Ouviu sobre as dificuldades dos tucanos em apoiar um nome do Centrão e disse que não iria interferir.

Os tucanos aguardam um nome que unifique a antiga oposição.

Terceiro maior partido da Casa, o PSDB decidiu não lançar um nome em troca do apoio do Planalto na disputa pela Mesa Diretora em 2017. O partido deverá escolher entre Maia – que na noite de ontem foi confirmado como candidato do DEM – e Julio Delgado, que venceu a disputa com Heráclito Fortes (PI) como candidato do PSB.

O novo presidente da Câmara ficará no posto por um mandato- tampão, até fevereiro de 2017, e será o responsável por conduzir a votação das principais propostas de interesse do governo neste segundo semestre, quando deverá ser concluído o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Na tentativa de assegurar a vitória de Rosso, líderes do Centrão tentavam reduzir ao máximo o número de candidatos.

Oficialmente, eram 10, podendo chegar a 17. A estratégia do grupo foi traçada em almoço realizado na residência do líder do PTB, Jovair Arantes (GO), logo após Rosso confirmar que iria entrar na briga pela sucessão de Cunha. Ele protocolou sua candidatura à noite. O Centrão também está dividido.

Já foram registradas as candidaturas de Giacobo, Cristiane Brasil (PTB-RJ), Carlos Manato (SD-ES) e Fausto Pinato (PP-SP). Além deles, também já protocolaram suas candidaturas os deputados Carlos Gaguim (PTN-TO), Fabio Ramalho (PMDB-MG) e Marcelo Castro (PMDB-PI).

 

Fiel da balança. Apesar de o PMDB ter pelo menos cinco pré-candidatos, o partido poderá ser o fiel da balança neste processo. Neste caso, Temer teria papel fundamental, mesmo dizendo que não entrará na disputa.

Segundo o líder do partido, deputado Baleia Rossi (SP), somente hoje o PMDB fará uma reunião para discutir o assunto. No Twitter, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que a “orientação do governo é uma só: a base unida pós-eleição”.

“Não tem preferido nem vetado.” O Palácio do Planalto receia apoiar um nome que acabe derrotado e provoque um racha na base. / TÂNIA MONTEIRO, CARLA ARAÚJO, BERNARDO CARAM, DAIENE CARDOSO, ERICH DECAT, JULIA LINDNER, PEDRO VENCESLAU e VERA ROSA

 

DISPUTA

Número de deputados

217

CENTRÃO

PP, PTB, PSD, PR, PRB, PSC, PROS, SD, PHS, PTN, PSL, PEN e PT do B

 

66

PMDB

 

90

NOVA OPOSIÇÃO

PT, PC do B e PDT

 

119

ANTIGA OPOSIÇÃO

PSDB, DEM, PPS e PSB

 

INDEPENDENTES

10

Rede e PSOL

10

PV, PRTB, PRP e PMB

 

Os candidatos

FAUSTO PINATO - (PP-SP)

CARLOS H. GAGUIM - (PTN-TO)

CRISTIANE BRASIL - (PTB-RJ)

CARLOS MANATO - (SD-ES)

GIACOBO-  (PR-PR)

ROGÉRIO ROSSO - (PSD-DF)

MARCELO CASTRO - (PMDB-PI)

FÁBIO RAMALHO - (PMDB-MG)

JULIO DELGADO - (PSB-MG)*

RODRIGO MAIA - (DEM-RJ)**

LUIZA ERUNDINA - (PSOL-SP)

 

A votação

 

● Qualquer deputado pode se candidatar à presidência da Câmara. As candidaturas deverão ser apresentadas à Secretaria-Geral da Mesa até as 12 horas do dia da votação

● A eleição será secreta e ocorrerá por meio do sistema eletrônico. O mandato-tampão vai até fevereiro de 2017

● Para que haja quórum para o pleito, a maioria dos deputados deve estar presente à sessão (257 dos 513 parlamentares).

● O novo presidente será eleito em 1º turno caso obtenha a maioria absoluta dos votos. Se nenhum candidato alcançar esse número, haverá um 2º turno entre os dois mais votados

 

*Foi anunciado pelo PSB como candidato do partido; Heráclito Fortes (PSB-PI) abriu mão da candidatura;

** Foi confirmado como candidato do DEM, mas ainda não formalizou candidatura

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Impeachment e caso de Cunha são pano de fundo de disputa

 

12/07/2016
Caio Junqueira

 

A divisão nos aliados do presidente em exercício Michel Temer tem por base os posicionamentos distintos dos grupos políticos nos dois principais temas que a atual legislatura tratou: o impeachment de Dilma Rousseff e o destino do mandato do deputado afastado Eduardo Cunha. É a partir desses dois assuntos que as forças estão se agrupando agora e o que explica as alianças heterogêneas.

Para o Centrão, deve comandar a Casa quem liderou a queda de Dilma e permitiu a Temer assumir o governo. Por isso, para o grupo, o nome ideal é Rogério Rosso (PSD-DF), que foi presidente da comissão do impeachment.

Liderados por Cunha e com papel decisivo no processo de afastamento da petista, o grupo considera inaceitável que a candidatura da chamada antiga oposição (PSDB, DEM, PPS e PSB), cujo nome mais forte é o de Rodrigo Maia (DEM-RJ), tenha como eixo apoiador forças contrárias ao impeachment, como o PT.

Ocorre que, para a antiga oposição, deve comandar a Câmara quem está liderando outra queda, a de Cunha, ainda que com o apoio de quem foi contrário ao impeachment.

Muito embora este grupo tenha se servido de Cunha para desestabilizar o governo Dilma durante a maior parte de 2015, quando ficou evidente que a Operação Lava Jato avançaria sobre ele, houve um rompimento no fim do ano passado e já há algum tempo seus integrantes defendem a cassação do seu mandato. É justamente isso o que os une aos petistas, que pretendem ver Cunha cassado e seu grupo político derrotado na eleição de amanhã. Daí a inusitada aliança dos grupos que se confrontam desde 1994 na política nacional. Seus objetivos, nesta disputa, são os mesmos.

Outro fator decisivo é a busca do Planalto por uma base confiável até 2018, caso o afastamento de Dilma seja confirmado.

Por saber que o Centrão costuma servir a quem está no poder, o governo deixou avançar negociações que permitam à antiga oposição chefiar a Câmara tanto neste mandato-tampão como no biênio 2017- 2018. Mas este movimento pode ter consequências.

Sob a liderança oculta de Cunha, o Centrão tem emitido sinais de que uma derrota amanhã deixará sequelas na base.

 

O Estado de São Paulo, n. 44828, 12/07/2016. Política, p. A4