Rodrigo Maia tem trajetória marcada pelo pragmatismo

 
12/07/2016
Wilson Tosta
Daiane Cardoso

 

Uma aula de economia ao ar livre agitou a tarde de 23 de março de 1990, na praça Floriano, conhecida como Cinelândia.

Ao pé das escadarias da Câmara Municipal, transformada desde a campanha de 1982 no quartel-general dos seguidores mais apaixonados de Leonel Brizola (PDT), o deputado federal pedetista e economista Cesar Maia tentava explicar aos correligionários seu apoio ao Plano Collor, mas não conseguiu convencer ninguém.

Cercado por militantes que o insultavam, precisou de escolta da Polícia Militar para deixar o local ileso. Estava com o filho, um jovem de 19 anos.

Vinte e seis anos depois, o jovem que acompanhou a aula na Brizolândia tem 46 anos, e no quinto mandato como deputado federal, tentará a presidência da Câmara. Ironicamente, chegou a articular apoio da esquerda – o PT foi liberado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para apoiá-lo (mais informações nesta página).

Ex-aliado do então presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Rodrigo Maia (DEM-RJ) trocou o antipetismo que o levou a articular o impeachment da presidente Dilma Rousseff pelo pragmatismo.

“Sou aliado do presidente Temer e quero trabalhar para reconstruir a harmonia na Câmara”, disse à Coluna do Estadão, no sábado. O peemedebista renunciou na quinta-feira passada ao cargo, do qual fora afastado, assim como do mandato, pelo Supremo Tribunal Federal.

Rodrigo soube se beneficiar da aliança com Cunha em torno do afastamento de Dilma.

Virou presidente da Comissão Especial da reforma política e, quando o então presidente da Câmara destituiu o deputado Marcelo Castro da relatoria do projeto, nomeou Rodrigo relator de plenário. Tornou-se, assim, principal canal de diálogo com PSDB, PPS e DEM. O abalo na relação veio com a indicação de André Moura (PSC-SE) por Cunha para a liderança do governo na Câmara.

Quatro anos atrás, Rodrigo já dera outro exemplo de pragmatismo nas eleições do Rio. Aceitou encabeçar uma chapa para prefeito do Rio tendo como candidata a vice Clarissa Garotinho, do PR, filha do adversário Anthony Garotinho. Era uma aliança entre dois clãs políticos que, depois de viver anos de protagonismo e disputas em campos opostos, atravessava dias difíceis. Cesar fora prefeito por três vezes, desde 1993, e elegera um sucessor, em 1996.

Anthony Garotinho controlou o governo de 1999 a 2002.

Em 2012, porém, Cesar e Garotinho estavam longe do poder e tentaram a união. Não funcionou. O resultado da aliança para a disputa municipal foi uma soma de rejeições.

Rodrigo terminou em terceiro lugar, com apenas 2,94% dos votos. Na eleição seguinte, para deputado federal, em 2014, Rodrigo teve sua votação mais baixa desde 1998: pouco mais de 53 mil votos.

 

Trajetória. Rodrigo nasceu no Chile, onde o pai vivia o exílio. Aos 26 anos foi nomeado secretário de Governo da gestão Luiz Paulo Conde (1997- 2000), então um aliado eleito pela força de Cesar, na prefeitura do Rio. Pela proximidade e até semelhança física com o ex-chefe do Executivo carioca, foi apelidado “Baby Sauro”, uma referência a um seriado americano dos anos 1990.

Ainda menino, acompanhou a carreira política do pai.

Viu-o próximo de líderes como Brizola, Ulysses Guimarães, Marcello Alencar, deputados, senadores, governadores.

Elegeu-se deputado federal pela primeira vez em 1998, aos 28 anos, com quase 100 mil votos, na mesma eleição que Cesar, pelo PFL, perdeu para Garotinho a disputa pelo governo fluminense. Rodrigo foi reeleito em 2002, 2006, 2010 e 2014. Foi vice-líder (2003- 2005), líder (2005-2007) e presidente do PFL. Em 2007, o partido virou DEM, sob seu comando.

 

Casamento. Onze anos atrás foi alvo de protesto quando se casou, na Igreja de São Francisco de Paula, no Centro do Rio, com Patrícia Vasconcelos, enteada de Moreira Franco, hoje secretário executivo do Programa de Parcerias e Investimentos.

Revoltados com a presença na cerimônia de políticos como o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o então prefeito de São Paulo, José Serra, todos do PSDB, e indignados com a suposta retirada das imediações de mendigos e camelôs, cerca de cem manifestantes se aglomeraram sob gritos de “oligarquia, oligarquia”, pancadaria e spray de pimenta.

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PT desiste de apoiar deputado do DEM

 
12/07/2016
Vera Rosa

 

Pressionado por sua própria base, o PT recuou e desistiu de apoiar a candidatura do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara. A tendência, agora, é que o partido avalize Marcelo Castro (PMDB-PI), que também entrou na briga para ocupar a cadeira de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), após a renúncia do deputado afastado, atingido pela Operação Lava Jato.

Foi tensa a reunião da bancada do PT, ontem, para decidir o rumo do partido na sucessão de Cunha. De um lado, um grupo defendia o apoio a Maia – com o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e, de outro, uma ala pregava a adesão a Castro, que foi ministro da Saúde e votou contra o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Havia, ainda, uma ala que preferia a candidatura de Fernando Giacobo (PR-PR).

“Nitidamente, o apoio a Rodrigo Maia não é majoritário na bancada”, resumiu o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA). O deputado Andres Sanchez (SP) saiu irritado da reunião, na sede do PT. “Falam aqui que não se pode apoiar candidato nem partido que ficou a favor do impeachment. Se for assim, não apoiamos ninguém.

E, depois, quem abraçou Maluf pode tudo”, afirmou ele, lembrando acordo fechado na eleição para a Prefeitura de São Paulo, em 2012, entre o então candidato do PT, Fernando Haddad, e o deputado Paulo Maluf (PPSP), inimigo dos petistas.

O encontro durou quase cinco horas e, ao final, ninguém escondia o racha. “Não precisamos caminhar numa camisa de força antes da hora. Vamos cercando as vírgulas”, disse o deputado Patrus Ananias (PT-MG), ex-ministro de Dilma.

A ideia de endossar Maia, um entusiasta do impeachment, tinha o objetivo de quebrar a hegemonia do Centrão, bloco ligado a Cunha. A estratégia, porém, provocou forte reação de militantes do PT.

Composta por 58 deputados, a bancada vai procurar candidatos e partidos contrários ao que chama de “golpe”, na tentativa de adotar posição comum na eleição que escolherá o presidente da Câmara, marcada para amanhã. O PC do B e o PDT, por exemplo, são dois partidos que se posicionaram contra o afastamento de Dilma. Apesar de divididas, essas legendas se mostram hoje mais propensas a endossar Maia, em acordo que também passaria pelo PSDB do senador Aécio Neves (MG).

O PT vai propor, ainda, que a cassação de Cunha seja votada nesta semana, antes do recesso branco. “Se não for assim, o processo ficará contaminado”, afirmou o deputado Henrique Fontana (RS).

 

Divisão

“Nitidamente, o apoio a Rodrigo Maia (DEM-RJ) não é majoritário na bancada”

Afonso Florence (BA)

LÍDER DO PT NA CÂMARA

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‘Santinhos’, balões e modelos em ação

 
12/07/2016
Bernardo Caram
Daiene Cardoso
Julia Lindner
Pedro Venceslau

 

Iniciada a corrida à presidência da Câmara, os corredores da Casa foram ocupados ontem por “santinhos”, modelos uniformizadas e uma infinidade de promessas nos discursos dos candidatos.

O púlpito instalado no Salão Verde passou o dia rodeado de jornalistas que acompanharam uma espécie de revezamento entre os postulantes à sucessão de Cunha.

Um dos candidatos do Centrão, Rogério Rosso (PSD-DF) já tinha material elaborado por equipe de marketing e slogan de campanha antes mesmo de protocolar sua candidatura. “Responsabilidade, Serenidade e Coerência” é o lema. Nos celulares dos parlamentares, “santinhos virtuais” do candidato do PSD apresentava os oito pontos do seu “plano de governo”.

Para os próximos dias, ele promete uma campanha econômica, usando principalmente meios eletrônicos. Durante uma conversa nos corredores da Câmara, deparou-se com uma funcionária da Casa levando balões da campanha de outro candidato. Disse então que essa não será sua estratégia.

“Não vou botar ‘rogeretes’ nos corredores”, brincou. A estratégia foi adotada por Carlos Gaguim (PTN-TO), que contratou um grupo de modelos uniformizadas para circular pelos corredores da Câmara com os balões. Entre as promessas de campanha do deputado está o fim das votações na madrugada. Outro candidato do Centrão, Beto Mansur (PRB-SP) disse que sua campanha será na base de “muita conversa”.

A deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), filha do ex-deputado Roberto Jefferson, levou uma claque para protocolar sua candidatura. Também distribuiu “santinhos”, estes impressos.

Na Casa, outros candidatos se mobilizavam na campanha. Carlos Manato (SDES), por exemplo, discursava para um plenário vazio. O “presidente tampão” vai chefiar a Casa até fevereiro de 2017.

 

O Estado de São Paulo, n. 44828, 12/07/2016. Política, p. A5