Valor econômico, v. 17, n. 4040, 05/07/2016. Política, p. A8

Ex-tesoureiro petista é principal alvo de nova fase da Lava-Jato

Por: Letícia Casado / Carolina Leal*

Por Letícia Casado e Carolina Leal* | De Brasilia e Curitiba

 

A Operação Lava-Jato chegou ontem à 31ª fase, batizada de Abismo, que apura suposto esquema de cartel e pagamento de R$ 39 milhões em propina na construção do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), no Rio.

O ex-tesoureiro do PT e ex-deputado Paulo Ferreira foi o principal alvo da operação, apontado como beneficiário direto das propinas. Ele foi preso há duas semanas na operação Custo Brasil, que deteve preventivamente o ex-ministro das Comunicações e do Planejamento Paulo Bernardo, já solto pela Justiça. Outro ex-tesoureiro da sigla, João Vaccari Neto, cumpre pena por participar de esquema de propina na Petrobras.

Segundo o Ministério Público Federal, as principais empreiteiras que participaram da licitação do Cenpes ajustaram-se num grande cartel, fixando preços e preferências "de modo a frustrar o procedimento competitivo da Petrobras e a maximizar os seus lucros". OAS, Carioca Engenharia, Construbase Engenharia, Schahin Engenharia e Construcap CCPS Engenharia formaram o Consórcio Novo Cenpes.

O Consórcio garantiu contrato de R$ 850 milhões com a Petrobras após pagar para a concorrente, WTorre, sair do certame (ver matéria nesta página), segundo os investigadores. Os pagamentos de propina a funcionários da Petrobras e petistas foram intermediados por Paulo Ferreira e pelo ex-vereador de Americana Alexandre Romano, o "Chambinho".

Os integrantes do esquema repassaram valores a um blog que teria veiculado notícias favoráveis a Ferreira e a uma escola de samba de Porto Alegre, a Sociedade Recreativa Beneficente Estado Maior da Restinga, de acordo com a Lava-Jato. Os valores teriam sido pulverizados, em vários depósitos de pequenos montantes. A escola de samba, por exemplo, teria recebido R$ 45 mil, também divididos em depósitos menores.

Para os procuradores, esses repasses "picados" seriam praticamente impossíveis de localizar se não fosse a colaboração premiada de Alexandre Romano, que mostrou o funcionamento do esquema.

A madrinha da bateria da escola de samba gaúcha, Viviane Rodrigues, também foi beneficiada e recebeu por meio de transferências entre 2010 e 2012, segundo a Lava-Jato. Ao todo foram feitas 18 transferências, no totalde R$ 61,7 mil - 16 de R$ 3,5 mil, uma de R$ 4,2 mil e uma de R$ 1,5 mil.

"Esses pagamentos não são expressivos em valor quando se considera o grande esquema na Petrobras, mas são contundentes para mostrar o envolvimento de Paulo Ferreira [tesoureiro do PT]", disse ontem o procurador Roberson Pozzobon.

A delação premiada de executivos da Carioca Engenharia serviu como base para a operação. Outro delator, o ex-gerente de engenharia da Petrobras Pedro Barusco disse que parte dos recursos foi destinada ao ex-diretor da Petrobras Renato Duque. O lobista Mario Goes admitiu a intermediação de propinas e disse ter feito pagamentos em dinheiro e depósitos em contas no exterior.

"Além dos ajustes e fraude na licitação, houve oferecimento, promessa e efetivo pagamento de propina a funcionários da Petrobras da Diretoria de Serviços e a agente político vinculado ao Partido dos Trabalhadores, visando à maximização dos lucros no contrato", informou em nota o Ministério Público Federal.

Segundo o MPF, foram identificados pagamentos de R$ 16 milhões transferidos ao doleiro Adir Assad, R$ 3 milhões para os advogados Roberto Trombeta e Rodrigo Morales, US$ 711 mil para Mario Goes e R$ 1 milhãopara Alexandre Romano. Com exceção do último, que era petista, os demais são operadores do esquema.

Romano disse que o dinheiro, desviado da Petrobras, foi lavado por meio de contratos de três empresas suas para recebimento de mais de R$ 1 milhão das construtoras integrantes do Consórcio Novo Cenpes. Esse dinheiro teria sido repassado ao secretário de finanças do PT, Paulo Ferreira entre 2005 e 2010, segundo o MPF. (Com agências noticiosas)