Correio braziliense, n. 19383, 20/06/2016. Artigos, p. 9

JACYR COSTA FILHO - Educação na agricultura, fator de inclusão social

“A agricultura é o instrumento mais eficaz para a paz e o equilíbrio social no Brasil e no mundo”. Essa frase do ex-ministro Roberto Rodrigues nunca foi tão emblemática e perfeita para o Brasil como agora. Apesar da crise econômica e política, o setor agrícola brasileiro tem sido um ponto fora da curva, mantendo bons níveis de crescimento, gerando divisas, empregos e inclusão social.

Em um cenário de crescentes demandas mundiais por alimentos e energia renovável, dispondo de fatores competitivos singulares como clima favorável (que permite duas safras anuais), água abundante (na maioria das regiões, o regime de chuvas elimina a necessidade de irrigação), terras, escala de produção, além de imensa costa marítima para produção de proteínas por meio da piscicultura, o agronegócio brasileiro, obviamente, tem uma vocação inegável para ser uma das áreas mais bem-sucedidas na economia brasileira, assim como se consolidar como uma referência mundial.

Porém, para isso, é necessário mais do que investimentos em infraestrutura, terras e tecnologias. É preciso educar. Por quê? Para o cientista político Fernando Abruccio, a resposta é simples: “Estamos na era do conhecimento e, inegavelmente, investimentos bem executados em educação produzirão um Brasil mais equilibrado socialmente e em condições de crescer de maneira sustentável”.

Temos que concordar. É com educação de qualidade que se produz inovação, avanço tecnológico e que se ganha em produtividade, grandes desafios para o setor nos próximos anos. Vide o exemplo vitorioso da Coreia do Sul. Após uma guerra devastadora, o país, então dividido, investiu maciçamente em educação e, mesmo com as restrições territoriais, se tornou uma potência industrial.

No passado, a posse de terra foi fator de inclusão social. Hoje, segundo Fernando Abruccio, a forma mais eficiente para exercê-la é por meio da educação. No caso específico da agricultura, mesmo com o deficit de educação, o Brasil conseguiu grandes feitos. Basta olhar para o desenvolvimento do mercado de cana-de-açúcar, que hoje é referência mundial na produção de açúcar e no desenvolvimento do etanol, um dos biocombustíveis mais sustentáveis do planeta.

Obviamente, para atingir esse nível, o setor privado investiu muito e, por iniciativa própria, em educação, pesquisa e desenvolvimento. Há uma série de ações que vão desde a educação básica — informática e internet para que os agricultores se integrassem ao mundo e pudessem melhorar seus processos produtivos — até treinamentos específicos para que pudessem se atualizar e operar as máquinas de ponta que a agroindústria adotou para tornar-se mais sustentável.

Um grande exemplo dentro do próprio setor sucroenergético é o Projeto RenovAção, iniciativa desenvolvida para oferecer oportunidades aos trabalhadores impactados pela adoção do Protocolo Socioambiental em São Paulo, ou seja, com o fim da queima da palha da cana e da colheita manual e a consequente mecanização da lavoura no estado, que atingiu mais de 90% dos canaviais paulistas.

Desde que foi iniciado em 2009, o projeto foi responsável pela requalificação de mais de 6 mil trabalhadores do setor, unificando mais de 150 iniciativas locais e regionais desenvolvidas por empresas e organizações sociais, que serviram de referência para a formação de outros 20 mil novos profissionais em programas semelhantes aos das indústrias paulistas.

Esses investimentos precisam ser feitos de forma planejada e estruturada. Nesse sentido, é fundamental incentivar a criação de centros de excelência privados de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias da agricultura tropical — sementes, defensivos, equipamentos agrícolas e de aplicações nas indústrias de alimentos e bebidas. Assim, também em parceria com centros governamentais de tecnologia, produzindo massa crítica e ambiente favorável para inovação.

Além disso, é muito importante incentivar a formação de especialistas que integrem meio ambiente com agricultura de excelente performance em termos de custo de produção e produtividade. A ação precisa estar aliada a forte trabalho de marketing de nossos produtos, de forma que as marcas vinculadas ao “Brazil” se tornem top of mind dos consumidores e símbolos de qualidade e desejo no mundo todo. Ampliando a educação de qualidade no setor agrícola em níveis técnico e superior, além da inclusão social de milhares de brasileiros que têm o DNA agrícola no sangue, o agronegócio brasileiro será ainda mais competitivo e reconhecido globalmente.

 

 

JACYR COSTA FILHO

Engenheiro civil, administrador de empresas, diretor região Brasil da Tereos (empresa francesa de bionergia)