Título: Dilma cortará até R$ 50 bi em 2012
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 22/10/2011, Economia, p. 14

Para que o BC possa reduzir mais os juros e a economia crescer acima de 3% ao ano, presidente pretende repetir arrocho no Orçamento

A presidente Dilma Rousseff está convencida de que será preciso manter a tesoura afiada no Orçamento de 2012, mesmo sendo um ano eleitoral, quando as pressões políticas por liberações de recursos públicos se exacerbam. A meta é cortar até R$ 50 bilhões das despesas, repetindo o arrocho deste ano, para conter as expectativas inflacionárias e permitir ao Banco Central a continuidade da queda da taxa básica de juros (Selic) — desde agosto, o indicador caiu um ponto percentual, de 12,50% para 11,50% ao ano. "Do jeito que as coisas estão indo, é possível que o anúncio do contigenciamento de recursos em 2012 seja antecipado", disse um assessor próximo da presidente.

Segundo ele, Dilma acredita que esse é o único caminho para garantir, sem transtorno, um crescimento médio superior a 3% ao ano do Produto Interno Bruto (PIB) em seu governo. Para a presidente, o pior que pode acontecer é entregar um desempenho medíocre da economia e ter a sua gestão comparada à de Fernando Henrique Cardoso. Na administração tucana, a média anual de expansão foi de 2,3% contra 4% da era Lula. "Neste ano, a ordem foi apertar o cinto para botar a casa em ordem. Mas veio a crise e manter o ritmo de expansão ficou mais difícil. Para 2012, os prognósticos não são bons, devido à crise e à ameaça de recessão. Então, somos nós que temos de fazer a diferença", acrescentou o assessor presidencial.

Números colhidos pelo Palácio do Planalto já mostram a economia brasileira crescendo abaixo de 3% neste ano e com a perspectiva de o terceiro trimestre ter sido negativo e de o quarto, muito próximo de zero. Não à toa o BC acelerou o passo e derrubou os juros, mesmo com a resistência da inflação, que, felizmente, começou a cair no acumulado de 12 meses depois de mais de um ano. Os analistas, em grande maioria, ainda veem o PIB deste ano e do próximo acima de 3%, com os índices de preços pressionados. Os mais pessimistas falam em expansão entre 2% e 2,5%.

"Faremos tudo o que for possível para não haver surpresas negativas. Por isso, a presidente está disposta a encarar mais um ano de sacrifício, segurando o Orçamento de 2012, pois sabemos que, assim, os analistas darão um voto maior de confiança ao BC no controle da inflação", disse um técnico do Ministério da Fazenda. "Assim, teremos condições de cumprir a meta integral de superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida), de 3,1% do PIB", acrescentou.

Na opinião do economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero, ainda que Dilma anuncie o corte de até R$ 50 bilhões no Orçamento de 2012, que está em tramitação no Congresso, será difícil manter os cofres apertados, por causa dos gastos já contratados, como o aumento de 14,4% do salário mínimo. "A presidente tem o meu voto de confiança, mas entre a vontade de fazer e a realidade há um espaço grande", afirmou. Para ele, além do mínimo, o Planalto terá de conter pressões por reajustes aos funcionários públicos.

O economista Felipe Salto, da Consultoria Tendências, faz a mesma avaliação. Pelas suas contas, somente o aumento do salário mínimo resultará R$ 23 bilhões adicionais em 2012. "O governo dificilmente conseguirá atingir a meta de superavit primário no próximo ano, mesmo com o contigenciamento", assinalou. Ele aposta em um índice de 2,2% para 2012. Montero fez, porém, uma ressalva. O governo tem a seu favor o crescimento das receitas. "Independentemente das dificuldades, a arrecadação continua crescendo. Por isso, não faço mais previsão de queda no recolhimento de tributos", frisou.

Investimento comprometido Se optar mesmo por cortar R$ 50 bilhões do Orçamento de 2012, a presidente Dilma Rousseff terá dificuldades para manter os investimentos, mesmo os considerados imprescindíveis, como os relacionados à Copa do Mundo e às Olimpíadas. De janeiro a agosto deste ano, a União investiu R$ 28 bilhões, volume apenas 0,2% maior do que os R$ 27,9 bilhões desembolsados no mesmo período de 2010. Pior: somente R$ 6,7 foram gastos novos e R$ 21,3, restos a pagar.