O globo, n. 30279, 01/07/2016. País, p. 7

‘Já passou da hora’ de Cunha renunciar, diz ex-aliado dele

Beto Mansur vai a Temer pedir apoio para comandar a Câmara

Por: Júnia Gama

 

As movimentações em torno da sucessão para a presidência da Câmara aumentaram ontem. Primeirosecretário da Câmara e candidato à presidência da Casa, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) defendeu que o presidente afastado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), renuncie ao cargo. Para Mansur, “já passou da hora” de seu antigo aliado deixar a vaga, o que ajudaria, em sua avaliação, a “estancar o sangramento” na Casa.

— Eu acho que ele vai renunciar semana que vem. Não falei com ele, mas acho que ele não pode continuar deixando sangrar a Câmara da maneira como está. Semana que vem vai fazer dois meses que ele foi afastado, seria uma boa hora para ele renunciar. Passou do prazo dele renunciar — disse Beto Mansur.

Candidato à vaga, Mansur esteve semana passada no Palácio do Planalto para pedir o apoio do presidente interino, Michel Temer, para seu pleito. Ouviu de Temer que o governo não pretende interferir na disputa. Além de Mansur, ao menos outros dois deputados, Heráclito Fortes (PSB-PI) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), tentaram o apadrinhamento do governo. Mas ouviram respostas semelhantes: o melhor nome para o Planalto é aquele que conseguir se viabilizar sem rachar a base.

— Beto Mansur quer a cadeira vaga para sentar nela. Ele falou ao Temer que gostaria de disputar, mas o presidente respondeu que ele deve tentar ser candidato único. Se conseguir, o governo ficará feliz. Mas não vai entrar na disputa — disse um interlocutor de Temer.

Beto Mansur afirma que sua posição sobre Cunha não está relacionada ao fato de ser candidato à sucessão na Casa. A pedido de Cunha, o Planalto vem trabalhando para viabilizar o nome de Rogério Rosso (PSD-DF) para o cargo.

— Não dá mais. Não estou discutindo se sou ou não candidato. Mas o plenário precisa de alguém para assumir a Casa em até cinco sessões, para voltar a funcionar. Não tenho acordo com ninguém. Os deputados têm que achar alguém que nos represente, não quem o Eduardo ou o governo querem — disse ele.

Ontem, Cunha reafirmou que “não existe renúncia”. Mas seus aliados mais próximos e os interlocutores que trabalham em sua defesa junto ao Supremo Tribunal Federal afirmam que ele, de fato, deverá deixar a presidência em um gesto para tentar evitar ser cassado.

 

REUNIÃO COM O PSDB PROVOCA REAÇÕES

Como O GLOBO informou ontem, pressionado por Cunha, Michel Temer tenta um acordo com a antiga oposição para viabilizar uma sucessão na Câmara com um nome de interesse do peemedebista. Semana passada, Temer procurou o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), em busca de apoio para um deputado do centrão que assuma o mandatotampão de presidente da Câmara até o final deste ano. Em troca, Aécio quer um compromisso de apoio, por parte do governo e do PMDB, a um integrante de PSDB, DEM, PPS ou PSB para presidir a Câmara no período entre 2017 e 2019.

A articulação provocou reações na Câmara. Publicamente, integrantes de partidos da antiga oposição criticaram qualquer tentativa de ajudar Cunha. Mas, reservadamente, admitem que pode ser costurada uma saída para garantir que este campo político assuma o comando da Casa a partir do ano que vem. No entanto, o líder do PMDB, deputado Baleia Rossi (SP), afirmou que seu partido deve ter candidato à presidência da Casa no próximo ano, e que não se deve falar neste tipo de acordo agora.

— Acho que é precipitado falar nisso. O PMDB tem direito de pleitear e tem todos os predicados para isso. Fazer acordo prévio não é o caminho. Qualquer decisão que formos tomar será pelo conjunto da bancada. O governo não vai interferir, pois é questão do Parlamento — disse Rossi.

Potencial candidato à vaga, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) também refutou qualquer acordo para eleger um presidente apreciado por Cunha:

— Nesse momento que o governo precisa de credibilidade para fazer ajuste, é complicado querer combinar o jogo com Eduardo Cunha sem antes falar com os russos.

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Passaportes: Casa da Moeda para produção

Falha em equipamento interrompe entrega do documento por, pelo menos, uma semana

 

A Casa da Moeda informou ontem que a produção de passaportes está interrompida por uma falha em um de seus equipamentos. A solução do problema depende da substituição de uma peça, que foi encomendada em uma empresa da Alemanha. Assim, a entrega de todos os documentos comuns e de urgência foi paralisada por, pelo menos, uma semana, segundo prazo estimado pela Casa da Moeda.

Com a suspensão da produção, a Polícia Federal informou que não poderá cumprir os prazos de entrega inicialmente previstos nos postos de emissão de passaporte. Mas esclareceu que seu serviço de atendimento à população e de pedido de emissão de passaportes está funcionando regularmente.

Em comunicado, a Casa da Moeda se desculpou com a população e afirmou que busca uma forma de voltar a produzir os documentos:

“A Casa da Moeda do Brasil (CMB) informa que, por conta de um problema num dos equipamentos, a produção dos documentos (comuns e de urgência) foi temporariamente interrompida. A empresa já solicitou a substituição da peça com defeito, que virá da Alemanha. A entrega de passaportes deve ser retomada na próxima semana. Em paralelo, a CMB busca uma alternativa para agilizar a retomada da produção. A CMB se desculpa com a população por todos os transtornos”, diz o texto.

Em abril, a entrega de passaportes também foi prejudicada depois que a Casa da Moeda teve problemas com um de seus fornecedores e não pôde produzir as capas dos documentos. Na ocasião, a Polícia Federal anunciou que estenderia o prazo de entrega e apontou como alternativa a possibilidade de solicitar um “procedimento de entrega urgente”. Mas quem optasse pela opção sugerida deveria pagar uma taxa extra de R$ 77,17.

Ontem, a PF informou que, em decorrência dos problemas técnicos da Casa da Moeda, as solicitações por passaportes em caráter de urgência aumentaram em 20%, em relação a períodos de normalidade nas emissões do documento. PRAZO DE 45 DIAS Há 15 dias, a Polícia Federal informou que o prazo de entrega de passaportes no país estava chegando a até 45 dias. O prazo regular de entrega é de seis dias, mas ainda não havia previsão para que o serviço fosse normalizado.

Depois disso, a Casa da Moeda informou que resolveu o problema com o fornecedor e voltou a receber as capas para a produção dos passaportes. Mas advertiu que, apesar de todos os esforços junto ao fornecedor, o estoque de matéria-prima ainda era insuficiente para colocar em dia a demanda reprimida.

Para solicitar o “procedimento de entrega urgente”, é preciso pagar a taxa extra de R$ 77,17 por meio de uma Guia de Recolhimento da União (GRU), que pode ser obtida nos postos de atendimento.

A Casa da Moeda também colocou à disposição o e-mail meupassaporte@cmb.gov.br para atender a pedidos urgentes e outras solicitações. Atualmente, o passaporte comum tem duração de dez anos e custa R$ 257,25. Há também um passaporte de emergência, com validade de um ano e custo de R$ 334,42 — valor já com a taxa de urgência incluída.

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Envenenamento causou morte de empresário alvo de operação da PF

Paulo César Morato, encontrado morto em motel de Olinda, ingeriu chumbinho

 

-RECIFE- Envenenamento por chumbinho foi a causa da morte do empresário Paulo César de Barros Morato, alvo da Operação Turbulência, da Polícia Federal, achado num motel de Olinda em 22 de junho. Os exames histopatológico e toxicológico nas vísceras de Morato apontaram “intoxicação exógena por organofosforado”, informou a Polícia Científica de Pernambuco ontem.

Não foi esclarecido se Morato tomou o veneno ou se alguém deu a ele. “Houve envenenamento por chumbinho. Quando todos os exames estiverem concluídos, serão encaminhados para a Polícia Civil descobrir se foi suicídio ou assassinato”, disse Otávio Toscano, gerente da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.

Já foram concluídos os exames de DNA, histopatológico e toxicológico nas vísceras. Faltam ser concluídas as perícias de imagens das câmeras do motel, papiloscopia, química, tanatoscópica e local de morte. A PF disse que as investigações da morte seguem sob responsabilidade da Polícia Civil.

A Turbulência investiga organização criminosa suspeita de lavagem de dinheiro, que pode ter financiado a campanha do ex-governador Eduardo Campos, morto em 2014. Quatro pessoas foram presas. O inquérito aponta que Campos e o senador Fernando Bezerra receberam propina do dono do avião, João Carlos Lyra de Melo Filho.

Segundo o MPF, Morato era o “verdadeiro responsável pela empresa Câmara & Vasconcelos Locação e Terraplanagem”. A PF diz que, por esta e outras empresas, Morato teria “aportado recursos para a compra da aeronave PR-AFA (que caiu com Campos) e recebido recursos milionários de empresas de fachada utilizadas nos esquemas de lavagem de dinheiro engendrados por Alberto Youssef, Rodrigo Morales e Roberto Trombeta, além de provenientes da OAS”.

Senadores relacionados:

  • Fernando Bezerra Coelho