Correio braziliense, n. 19382, 19/06/2016. Política, p. 5

JANOT DENUNCIA HENRIQUE ALVES

CRISE NA REPÚBLICA » Ex-ministro do Turismo é acusado de lavagem de dinheiro e evasão de divisas pela Procuradoria-Geral da República. Ele deixou o cargo na quinta-feira e se diz "sereno, racional e republicano" com a ação do Ministério Público Federal

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) ao Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, em razão de uma conta bancária na Suíça. Citado pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado em delação premiada da Operação Lava-Jato, Alves pediu demissão na quinta-feira para se explicar fora do governo. Ele resolveu deixar a pasta ao ser informado que investigadores teriam descoberto a conta bancária na Europa.

O ex-ministro nega conhecer a nova denúncia no Supremo. Em nota oficial divulgada ontem, Alves afirmou-se “sereno, racional e republicano” diante das acusações. “Não recebi citação de nenhum novo processo. Tão logo tome conhecimento do seu conteúdo, certamente darei a resposta necessária e rápida diante dos fatos a serem esclarecidos. Mantenho-me sereno, racional e republicano diante do vazamento seletivo ilegalmente publicizado. Acredito na imprensa livre e nas instituições judiciárias da nossa democracia”, escreveu.

Terceiro ministro a deixar a gestão de Temer, Henrique Eduardo Alves é suspeito de manter uma conta com depósitos entre US$ 700 mil e US$ 1 milhão na Suíça. O dinheiro estaria bloqueado. O nome do banco não foi revelado. Segundo o jornal Estado de S.Paulo, a Suíça transferiu ao Brasil todos os documentos e extratos bancários para que as investigações transcorram no Brasil, já que o país não extradita seus nacionais.

A suspeita é de que a conta do ex-ministro esteja entre as mil bloqueadas por suíços por estarem relacionadas com a Operação Lava-Jato. A investigação teria tido início em Berna, após identificarem depósitos com recursos oriundos de propinas. Os investigadores assemelham o caminho do dinheiro de Alves ao mesmo esquema adotado pelo presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

 

“Imprevisível”

Ontem, em evento na Universidade de Oxford, o procurador da República Deltan Dallagnol enfatizou que a operação é “imprevisível” e, por isso, não é possível estabelecer um prazo para o fim das investigações. “É difícil prever o fim, mas poderia dizer que, com certeza, não existe um marco próximo para acabar”, disse após palestra no evento Brazil Forum 2016.

A declaração contradiz o recente discurso do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, que defendeu que a operação tenha hora de parar. Em São Paulo, durante a semana, Padilha afirmou “ter certeza de que as autoridades da Lava-Jato saberão o momento de pensar em concluir”.

Em Oxford, o coordenador da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba evitou citar o nome do ministro, mas disse que a investigação é dinâmica e delações têm ocorrido frequentemente, o que pode expandir o campo de trabalho dos procuradores. “As investigações são muito dinâmicas. Quando elas se expandem, não dá para colocar um marco. É uma investigação em andamento e as investigações são muito dinâmicas. Imprevisíveis”, disse após palestra no evento organizado por brasileiros da Universidade de Oxford e da London School of Economics.