Correio braziliense, n. 19389, 26/06/2016. Economia, p. 8

SEM PREOCUPAÇÃO COM A APOSENTADORIA

FINANÇAS » Pesquisa revela que menos da metade dos brasileiros de 21 a 36 anos " a chamada Geração Y " tem consciência da necessidade de investir e poupar para a velhice
Por: CELIA PERRONE

CELIA PERRONE

 

A estudante de psicologia Tayane Nunes, de 22 anos, vive com os pais, faz estágio e o dinheiro que sobra, quando sobra, coloca na poupança para fazer um mestrado fora do país. Ela diz que não procura outra aplicação por falta de conhecimento. “Não sei onde investir meu dinheiro. Não sei quais aplicações são seguras e duradouras”, conta. E, apesar das constantes reportagens sobre o deficit da Previdência, que ameaça o sustento dos trabalhadores na velhice, ela nem cogita economizar para a aposentadoria. “Está tão longe ainda. Além disso, pretendo prestar concurso para a Polícia Militar. Meu pai e minha mãe são policiais e vão receber aposentadoria integral. Sei que tudo pode mudar até eu me aposentar, mas está muito longe da minha realidade”, afirma Tayane.

O desconhecimento de Tayane não é um caso isolado. Ela faz parte da chamada Geração Y, conhecida também como geração do milênio, ou millenials, que foi objeto da pesquisa “Geração Perdida: Motivando a Geração Y a fazer investimentos para a aposentadoria”, da Universidade de Cambridge e do banco BNY Mellon. Os pesquisadores entrevistaram 1.253 jovens entre 21 e 36 anos nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Holanda, na Austrália, no Japão e no Brasil e descobriram que os representantes desse grupo social mal sabem como começar a planejar a aposentadoria e nem sequer imaginam quanto teriam que poupar por mês para obter uma determinada renda no futuro.

A situação é mais grave no Brasil, onde metade dos entrevistados diz que não sabe e nem quer saber da possibilidade de receber menos benefícios que seus pais e avós. Nos países desenvolvidos, 77% dos jovens sabem que terão uma aposentadoria menos confortável que a das gerações anteriores, devido a fatores demográficos, políticos e macroeconômicos. Eles não têm conhecimento,  no entanto, do que realmente o futuro lhes reserva, mas gostariam de ser alertados da “dura realidade” sobre suas finanças pós-aposentadoria. A pesquisa mostra ainda que as atitudes variam imensamente de país para país. No Brasil, apenas 48% dos integrantes da Geração Y estão interessados em conhecer a “dura realidade”, em comparação a 94% dos australianos.

 

Verdades

Para Paul Traynor, chefe internacional dos segmentos de Seguros e Previdência no BNY Mellon, o mais preocupante é que um terço dos jovens brasileiros não estão dispostos, “ou talvez não estejam prontos”, para ouvir a verdade sobre o próprio futuro financeiro, em comparação com apenas 12% nos outros países. Mas ele destaca que a falta de conhecimento não é exclusiva do Brasil e que mais de 70% dos jovens brasileiros sugeriram que fossem adicionadas aulas de educação financeira e investimentos ao currículo escolar.

“É o número mais alto no nosso inquérito. É evidente que há uma sede para a educação em torno desses produtos”, frisa Traynor. “Dado que os jovens brasileiros estão incitando para maior educação em torno de poupança e de investimentos, talvez eles sintam que uma abordagem pragmática e educacional seria mais eficaz e motivacional do que qualquer choque ou táticas de intimidação. O qualitativo feedback que recebemos da Geração Y brasileira nos diz que ela está muito interessada no ‘agora’ e tem dificuldade para se concentrar no futuro”, ressalta.

 

Marxismo

Incluir educação financeira no currículo escolar é também o que defende o economista e especialista em previdência e finanças públicas Fabio Giambiagi. “No segundo ano do ensino médio deveriam ser ministradas aulas de educação financeira com ênfase em juros compostos e, no terceiro ano, um curso de educação previdenciária”, afirma. Ele credita a diferenças culturais, principalmente, o fato de os brasileiros não quererem saber sobre a realidade da aposentadoria, e destaca que, nos países asiáticos, o ensino da matemática é melhor do que no Brasil. “Aqui doutrinam a garotada com um marxismo de quinta categoria e ela cai na vida sem noções básicas para enfrentar o que realmente importa: como se preparar para os desafios financeiros”,critica.

A pesquisa descobriu que 61% dos brasileiros da Geração Y não recebem qualquer informação financeira através das empresas onde trabalham ou das instituições de ensino. “Os brasileiros dessa geração são menos propensos a serem contatados tanto pelas empresas em que trabalham como pelas instituições de ensino sobre questões financeiras do que em qualquer outro país pesquisado”, diz Adriano Koelle, chairman da América Latina no BNY Mellon.

 

Frase

"Não sei onde investir meu dinheiro. Não sei quais aplicações são seguras e duradouras"

Tayane Nunes, estudante de psicologia