Correio braziliense, n. 19391, 28/06/2016. Política, p. 2

PRESSÃO DE ALIADOS POR 800 CARGOS

CRISE NA REPÚBLICA » Ministros e parlamentares tentam destravar nomeações de segundo e terceiro escalões na Esplanada e nos estados. Temer adia sanção da lei que define novas regras para indicações de cargos públicos nas estatais e autarquias
Por: PAULO DE TARSO LYRA

PAULO DE TARSO LYRA

 

O governo tem pelo menos 800 nomes parados à espera de nomeação no segundo e terceiro escalões dos ministérios e nos estados. Esse número não leva em conta as vagas que estão em aberto nas estatais e nas autarquias, que só começarão a ser preenchidas após a sanção da lei que define novas regras pra indicações de cargos públicos. O ato estava previsto para hoje, mas acabou adiado, pois o Planalto quer analisar com calma os vetos propostos tanto pela equipe econômica quanto pela área política. A dificuldade para preencher as vagas preocupa o Planalto, inquieta os ministros que não conseguem completar suas equipes e irrita aliados no Congresso, o que é não é um bom indicador em tempos de votação de impeachment no Senado e de medidas econômicas na Câmara.

“Muitos destes nomes estão parados por questões burocráticas de checagem de dados, antecedentes. Às vezes, quando o cargo é muito alto, como um secretário executivo, nós bancamos a indicação. Precisamos suprir essa demanda”, reconhece o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima.

Ele admite ser necessário um pente fino para as indicações públicas, mas afirmou que, em muitos casos, o rigor na seleção atrapalha o funcionamento do Executivo Federal. Ontem, durante a reunião do núcleo de infraestrutura com o presidente em exercício, Michel Temer e os líderes do governo na Câmara e no Senado, o ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney, disse que tem um nome qualificado para trabalhar na agilização de licenças ambientais em consonância com o atual código florestal e que, simplesmente, não consegue colocá-lo no cargo.

Apesar de apenas Zequinha ter expressado essa insatisfação em público ontem, ela permeia toda a Esplanada. Parte das vagas está aberta após a exoneração dos antigos ocupantes. E parte delas ainda está preenchida por integrantes do governo anterior, o que paralisa a máquina federal. No encontro ministerial de ontem, muitos auxiliares de Temer defenderam uma presença maior do governo federal nos estados, como uma forma de contrapor-se aos ataques promovidos por petistas, muitos ainda alojados na estrutura federal.

Temer precisa correr com essas indicações para não irritar a base aliada que, pelo menos por enquanto, tem respondido positivamente às demandas encaminhadas pelo Planalto. O governo tem obtido sucesso nas votações do Congresso e segue otimista em relação à aprovação do impeachment no Senado Federal. “Claro que, à medida que o tempo vai passando, cada um dos senadores vai tentar valorizar o próprio passe e o pressionar pra que seus afilhados sejam nomeados”, afirmou um interlocutor palaciano.

Pelo menos dois senadores não têm mais do que reclamar. Romário (PSB-RJ) conseguiu a indicação de Rosinha da Adefal para a Secretaria Nacional da Pessoa com Deficiência Física. Rosinha também é ligada aopresidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com quem Temer vive uma lua de mel política e econômica. Já o senador Dario Berger (PMDB-SC) pode comemorar a volta de Vinicius Lumenz para a presidência da Embratur.

Relator do impeachment na Câmara, Jovair Arantes (PTB-GO) manterá a presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e quer comandar também o Conselho de Administração do Fundo de Amparado do Trabalhador (Codefat), O ministério do Trabalho já está na cota do PTB, tendo como ministro o deputado Ronaldo Nogueira. Juntos, o FAT e a Conab administram um orçamento de aproximadamente R$ 15 bilhões. Os nomes dos indicados para os cargos passam por um pente fino da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) antes de serem sancionadas pelo chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha

 

Negociação

O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), acha difícil que um senador exponha aberta a possibilidade de negociar votos do impeachment em troca de cargos. “Quem vai querer pagar o preço de ser responsável pela volta de Dilma ao governo? Esse preço político é muito alto”, questionou ele. O Planalto mantém o otimismo e calcula que tem pelo menos 60 votos favoráveis ao afastamento definitivo de Dilma Rousseff.

Temer sanciona hoje a Lei das Estatais e, até o início da noite de ontem, ainda sofria pressão para promover algumas mudanças no texto aprovado pelo Senado. Um dos vetos praticamente certos é ao trecho que obriga a responsabilização solidária mesmo nos casos em que o integrante do Conselho de Administração votar contra a decisão da maioria. O outro é a proibição de que o presidente da estatal acumule o cargo de presidente do Conselho de Administração.

“Nós também estamos tentando derrubar a quarentena que proíbe a indicação imediata de dirigentes partidários e sindicais para as estatais, retirada pela Câmara e retomada pelo Senado. Isso gera muitos ruídos na nossa base de apoio”, explicou Geddel.

 

Frase

“Muitos destes nomes estão parados por questões burocráticas de checagem de dados, antecedentes. Às vezes, quando o cargo é muito alto, como um secretário executivo, nós bancamos a indicação. Precisamos suprir essa demanda”

Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo