Título: Brasil deve ajudar Europa
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 29/10/2011, Economia, p. 18

Ministério da Fazenda aceita usar reservas cambiais para participar do socorro, mas deseja fazer aporte por meio do FMI

O governo brasileiro aceita destinar parte das reservas cambiais do país ao pacote de resgate financeiro da Zona do Euro, desde que as medidas recém-anunciadas pelos líderes europeus sejam também apoiadas pelos chefes de Estado e de governo do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo, que se reúnem na próxima semana em Cannes, na França. Além disso, o país só faria o aporte, cujo montante ainda não foi avaliado pela equipe econômica, por meio de uma linha tradicional do Fundo Monetário Internacional (FMI).

"O eventual aporte teria de ser feito mediante uma mudança na carteira de aplicações das reservas do país, o que dispensa autorização do Congresso e pode sair mais rapidamente. Preferimos também fazer uma operação bilateral, na qual repassamos dinheiro ao Fundo e este o empresta a outro país", informou ontem um técnico do Ministério da Fazenda.

Considerando que o detalhamento dos acertos anunciados nesta semana pelos líderes europeus só serão conhecidos no começo do próximo ano, a autoridade acredita que as condições para participar financeiramente do socorro servirão de ponto de partida para os negociadores brasileiros em Cannes. "Ainda não se sabe quanto nem quem pode ser chamado a socorrer. O próprio G-20 pode, neste momento, apenas apoiar politicamente a saída encontrada pelos europeus para o euro", acrescentou.

O Brasil propõe que a contribuição que vier a fazer ao FMI seja convertida em aumento de cotas na instituição, garantindo ao país mais poder de influência na entidade. Essa conversão, porém, não poderia ser feita de imediato porque o sistema de cotas do Fundo passa por um processo de revisão, comandado pela diretora-gerente do organismo multilateral de crédito, Christine Lagarde, que só estará concluído em 2013 ou 2014. Em 2009, o Tesouro teve ampliada sua participação quando colocou US$ 10 bilhões no Fundo como parte de uma contribuição coletiva a um movimento coordenado pelo G-20 para prevenir colapsos de economias nacionais durante a crise.

Dúvidas "O governo também considera nebulosa a proposta de outros mecanismos de ajuda sugeridos recentemente, como o que prevê um fundo especial administrado pelo FMI, mas desvinculado de seu patrimônio", adiantou o técnico. Está sendo discutida também a criação, pelos europeus, de um instrumento específico para atrair investimentos, atrelado ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef). Os negociadores brasileiros não descartam a participação nesse mecanismo, mas lembram que ainda há muitas dúvidas sobre o seu funcionamento e sobre os riscos envolvidos na operação.

Uma das decisões esperadas do encontro do G-20 é o encaminhamento prático das discussões sobre regulação financeira internacional realizadas ainda na época da crise de 2008-2009. É provável que o grupo divulgue uma lista de 29 importantes bancos de alcance global que passarão a seguir normas mais rígidas para evitar prejuízos ao sistema financeiro após uma eventual quebra. Nenhum banco brasileiro estaria entre os alvos. "Ao fornecer garantias ainda maiores para proteger credores e clientes, essas instituições poderiam até decidir pela redução de seu tamanho", completou.