Título: PM volta à Polícia Federal
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 25/10/2011, Política, p. 2

Pela segunda vez desde que denunciou irregularidades no Programa Segundo Tempo do Ministério do Esporte, o soldado da Polícia Militar do Distrito Federal João Dias Ferreira prestou depoimento na Polícia Federal. O PM conversou por mais de três horas com os delegados que cuidam do caso e entregou gravações de áudios e documentos que podem servir como prova das acusações. Ontem, o PM voltou a afirmar que vários dirigentes estão envolvidos em supostas fraudes no ministério, mas disse não ter elementos para acusar diretamente o titular da pasta, Orlando Silva. A PF ainda não decidiu se abrirá inquérito para apurar as declarações do soldado.

"Devagar vamos trazendo novidades", afirmou o policial ao chegar à superintendência da PF no Distrito Federal, no fim da manhã de ontem, levando 13 gravações em áudio — espelhadas em um gravador digital e um telefone celular — para serem entregues aos delegados Jackson Rosales e Fernando Souza Oliveira, que conduzem a investigação. Ele apresentou também uma relação de 300 ONGs e sugeriu que em algumas delas podem haver irregularidades. Para facilitar o trabalho dos investigadores, separou uma relação de 10 entidades que poderiam ser chamadas pela Polícia Federal. A corporação, entretanto, não informou quais serão os próximos passos da apuração do caso.

O policial militar disse que as gravações são de reuniões mantidas com auxiliares próximos a Orlando Silva, mas ressaltou que não existe diálogos com o ministro. Ferreira afirmou que encontros ocorreram no 7º andar do prédio do Ministério do Esporte, onde ficava o gabinete da secretaria executiva. "Fui em reuniões nada convencionais", afirmou o policial militar, observando que uma delas teria acontecido entre 21h e meia-noite. Ferreira também fez relatos de contatos que teve com outros secretários da pasta.

"A Polícia Federal é que terá que investigar se Orlando recebeu dinheiro", disse o policial militar, ressaltando que todos os dirigentes se reportavam ao ministro como responsável, mas disse não ter material que chegue diretamente ao titular da pasta. O PM garantiu que está em busca de novas provas contra funcionários do ministério e quer apresentar os documentos que conseguir recolher em seu depoimento na Câmara amanhã.

O material entregue pelo PM vai passar por perícia na Polícia Federal. A dúvida dos investigadores é se abrem um novo inquérito para apurar os fatos descritos por Ferreira ou se checam as denúncias na mesma apuração da Operação Shaolin, da Polícia Civil do DF, que descobriu o esquema de fraudes no Programa Segundo Tempo. Segundo fontes da Polícia Federal, que teve acesso ao caso envolvendo o PM, as únicas irregularidades encontradas se relacionam ao programa e não existem indícios que possam, por enquanto, chegar a Orlando Silva. A PF também ainda não tem claro quem seriam os autores das fraudes.

Fraudes A Operação Shaolin ocorreu em 1º de abril do ano passado, quando cinco pessoas foram presas acusadas de desvio de dinheiro do Programa Segundo Tempo para ONGs. Entre os detidos estava João Dias Ferreira, que tinha uma associação utilizada supostamente para o derrame de dinheiro público, feito pela Federação Brasiliense de Kung-Fu. A investigação feita pela Polícia Civil do DF seguiu em junho deste ano para a Polícia Federal, que trata o caso em sigilo. Segundo a apuração inicial, as fraudes poderiam chegar a quase R$ 3 milhões.