‘Flagrada’ em ato pró-Dilma, vice de Janot deixa o cargo

Beatriz Bulla e Isadora Peron

31/08/2016

 

 

O JULGAMENTO DO IMPEACHMENT - Vice-procuradora da República, Ela Wiecko pede dispensa depois da divulgação de vídeo em que ela aparece segurando faixa ‘Fora Temer’.

A vice-procuradora-geral da República, Ela Wiecko, pediu dispensa do cargo ontem, após a divulgação de um vídeo em que aparece em uma manifestação contrária ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ela era a vice do procurador- geral da República, Rodrigo Janot, que aceitou a o pedido de dispensa.

O vídeo que circula na internet mostra Ela em uma manifestação que aconteceu em junho deste ano, em Portugal. Na gravação, a vice-procuradora aparece de óculos escuros segurando uma faixa onde se lê “Fora Temer”, a frase usada nos protestos contra o presidente em exercício Michel Temer.

A vice-procuradora-geral da República confirmou que participou da manifestação, mas disse que não iria comentar o assunto.

“Foi em junho, quando eu estava de férias”, disse.

Ao site da revista Veja, a vice- procuradora afirmou que a sua opinião é compartilhada por colegas na Procuradoria e que o presidente em exercício é citado em delações premiadas de investigados. “Tem muita gente que pensa como eu dentro da instituição. Eu estou incomodada com essas coisas que estão acontecendo no Brasil. Não me agrada ter o Temer como presidente. Ele não está sendo delatado? Eu sei que está”, disse.

Projetos. Em nota, a assessoria da Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou a dispensa e listou projetos de Ela no cargo. “Na Vice-Procuradoria- Geral da República, ela foi responsável por importantes projetos na área de direitos humanos, como a criação do Comitê Gestor de Gênero e Raça do Ministério Público Federal e a defesa da legalidade da Lista Suja do trabalho escravo. Também teve atuação de destaque no Conselho Superior do Ministério Público Federal e nos processos junto à Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça”, diz a nota da assessoria da PGR. Ela deixa o cargo, mas não a carreira. Ela é subprocuradora da República.

Ela foi indicada por Janot para assumir a vice-Procuradoria- Geral em 2013 e é responsável por conduzir as investigações que correm no Superior Tribunal de Justiça (STJ), como a Operação Acrônimo, que tem entre os alvos o governador de Minas Fernando Pimentel, do PT. Também é a viceprocuradora que substitui Janot nas ausências.

Protesto. No vídeo, o professor da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos, é entrevistado por uma TV local e diz que a comunidade internacional não vai aceitar o impeachment. “Somos contra o golpe, a favor da democracia no Brasil, e tudo faremos internacionalmente para mostrar que esse golpe é realmente um golpe que visou com que os golpistas tentassem parar a luta contra a corrupção que estava a ser iniciada no Brasil”, disse.

No início do mês, o marido de Ela, Manoel Volkmer de Castilho, foi exonerado do gabinete do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), após assinar um manifesto em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Teori é o relator da Operação Lava Jato, da qual o petista é alvo. 

‘Incomodada’

“Tem muita gente que pensa como eu dentro da instituição. Eu estou incomodada com essas coisas. Não me agrada ter o Temer como presidente. Ele não está sendo delatado? Eu sei que está.”

Ela Wiecko

SUBPROCURADORA DA REPÚBLICA EM ENTREVISTA AO SITE DA ‘VEJA’