Valor econômico, v. 17 , n. 4062, 04/08/2016. Brasil, p. A8

Dilma busca senadores indecisos

Comissão Especial deve aprovar parecer pelo impeachment por 15 votos a cinco

Por: Thiago Resende / Vandson Lima

 

O parecer do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) pela continuidade do processo de impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff deve ser aprovado hoje na Comissão Especial do Senado, por 15 votos a cinco. A avaliação parte tanto dos senadores alinhados ao Palácio do Planalto quanto dos defensores de Dilma.

Apesar do cenário adverso, Dilma se empenha pessoalmente nas negociações com senadores que ainda podem mudar de lado no julgamento final em plenário, que deve ocorrer no fim de agosto.

Aliados da petista relataram ao Valor que, além dos 22 votos conquistados por ela em maio, quando o processo foi aberto no Senado, mais dois senadores entraram nas contas dos que trabalham contra o impeachment.

Mesmo com o apoio acertado eles podem votar a favor da pronúncia da presidente afastada - segunda fase do processo em que o Senado declara que há elementos de crime de responsabilidade.

Trata-se de uma estratégia, segundo um aliado de Dilma. A ideia é não indicar quem o presidente interino Michel Temer teria que procurar até o encerramento do processo.

Um dos votos que teriam sido conquistados pelo PT é o do senador Acir Gurgacz (PDT-RO), apurou o Valor. Ele opinou pela abertura de processo de impeachment, em maio, apesar de o PDT ter fechado apoio à Dilma.

Senadores mais próximos da petista retornaram do recesso mais esperançosos. Contando com as negociações, a promessa de plebiscito para consultar a população sobre antecipar eleições presidenciais, além de ausências no dia do julgamento final, passaram a enxergar uma possibilidade da presidente afastada retomar o cargo.

Ela precisa de 28 senadores contra o impeachment, abstendo-se ou mesmo ausente no dia da votação, prevista para o fim do mês. É Temer quem tem que conseguir 54 votos. Essa será a votação que importa. Aliados de Temer continuam contando com 60 votos - seis a mais que o necessário.

"O placar de amanhã [hoje] na comissão está dado", disse a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). "Aqui e na pronúncia no plenário, ambos já tem resultado claro. São por maioria simples. A grande decisão é o julgamento", frisou Humberto Costa (PT-PE).

Talvez a maior dúvida, o senador Wellington Fagundes (PR-MT), sinalizou a aliados que deve votar pelo parecer do tucano. Oficialmente, ele não revela a posição, mas, em conversas reservadas, indicou que opinará pela pronúncia.

Senadores citam um episódio no jantar com Temer nesta semana, oferecido pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes. Fagundes foi convidado por senadores a se sentar ao lado do presidente interino "por ser o único indeciso" no encontro. "Não tenho DNA de oposição", respondeu ele ao pemedebista e a parlamentares, segundo relatos.

Mesmo assim, Fagundes ainda é visto pelo PT como um voto que pode ser alterado até o julgamento final. Cristovam Buarque (PPS-DF) e Eduardo Braga (PMDB-AM) também estão em conversas.