Risco ao ajuste fiscal

Martha Beck

19/08/2016

 

 

Para área econômica, se Meirelles perder força, confiança do mercado será abalada

A equipe econômica avalia que ataques de aliados, especialmente do PSDB, ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, acabam prejudicando o ajuste fiscal que o Brasil necessita para voltar a crescer.

Os técnicos lembram que Meirelles tem credibilidade junto ao mercado porque os agentes acreditam em sua capacidade de reequilibrar as contas públicas. Mas destacam que, a partir do momento em que ele parecer enfraquecido ou sem condições de implementar medidas como a limitação dos gastos públicos, essa confiança dos investidores será minada.

Os integrantes da área econômica afirmam ainda que o ministro aceitou fazer concessões no projeto de renegociação das dívidas dos estados e nos reajustes salariais do funcionalismo porque seu foco está num ajuste fiscal de longo prazo, que está ancorado na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que fixa um teto para as despesas da União, estados e municípios. Por ela, os gastos só poderão crescer com base na inflação do ano anterior durante um período de, pelo menos, nove anos.

— A PEC do teto resolve todas essas questões no longo prazo. Com ela, qualquer reajuste salarial do funcionalismo, por exemplo, terá que ser negociado para caber dentro do limite do teto. O foco do debate fiscal passa a estar no controle das despesas, e não em arranjar receitas para acomodar mais gastos — diz um integrante da equipe econômica.

Segundo ele, sem o ajuste fiscal que o mercado tanto espera, haverá prejuízo não apenas para o PMDB na disputa eleitoral de 2018. Os aliados do governo Michel Temer também sentirão os efeitos negativos nas urnas, pois a economia continuará patinando, o desemprego continuará elevado e o governo provavelmente terá que aumentar impostos para conseguir fechar suas contas.

Os técnicos admitem que a PEC do teto para os gastos vai enfrentar uma batalha dura no Congresso, pois haverá resistência, inclusive dos aliados, principalmente na desvinculação de receitas de Saúde e Educação. No entanto, eles afirmam que o governo Temer tentará reforçar a comunicação com os parlamentares e com a própria sociedade para deixar claro que os custos de deixar os gastos subindo no ritmo atual são maiores do que os resultantes da aprovação da emenda.

— Agora a batalha é na comunicação. Críticas à PEC são esperadas e normais. Por isso, o resultado do que será aprovado dependerá muito do poder de negociação e convencimento no Legislativo — disse um integrante do Ministério da Fazenda.

 

 

O globo, n. 30328, 19/08/2016. País, p. 4.