Valor econômico, v. 17 , n. 4061, 03/08/2016. Brasil, p. A4

Venezuela critica 'Tríplice Aliança' no Mercosul

Brasil, Argentina e Paraguai se unem para evitar que país assuma presidência do bloco

Por: Fabio Murakawa

 

A Venezuela acusou Brasil, Paraguai e Argentina de formarem uma "nova Tríplice Aliança" e de reeditar a "Operação Condor" para dificultar "o direito que lhe corresponde" de exercer a presidência rotativa do Mercosul.

As afirmações foram feitas em nota na noite de segunda, horas depois de o ministro das Relações Exteriores, José Serra, enviar carta aos chanceleres do bloco dizendo considerar vaga a presidência pro-tempore do Mercosul. Pela rotação por ordem alfabética, tradicionalmente usada no bloco, a Venezuela deveria estar na presidência pro-tempore desde sábado, quando encerrou-se o mandato uruguaio.

Na nota, Caracas diz que se considera em "pleno exercício" do cargo. Mas Brasil e Paraguai alegam que o país não cumpriu todo o acervo normativo do bloco, às vésperas do fim de um prazo de quatro anos para fazê-lo.

"A República Bolivariana da Venezuela, em pleno exercício de sua presidência pro-tempore do Mercado Comum do Sul (Mercosul), denuncia as maquinações da direita extremista do sul do continente, conformada em uma nova Tríplice Aliança, que vem atuando de maneira sorrateira, através de manobras legalistas, para tratar de obstaculizar o que por direito lhe corresponde", disse.

A Tríplice Aliança foi formada por Brasil, Argentina e Uruguai durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), em que o pequeno país sul-americano foi dizimado pelos três vizinhos. O Uruguai, porém, está a favor da passagem de bastão para a Venezuela.

A Argentina vem guardando uma postura mais discreta: o presidente Maurício Macri não está alinhado aos bolivarianos, mas a chanceler Susana Malcorra concorre à Secretaria-Geral das Nações Unidas, em outubro, e tem evitado adotar posições mais duras contra Caracas.

A imprensa argentina, entretanto, citando fontes anônimas do governo, diz que Macri não está disposto a reconhecer a autoproclamada presidência venezuelana no Mercosul.

No comunicado de ontem, a Venezuela também lembrou a Operação Condor - uma coordenação entre as ditaduras militares sul-americanas para caçar militantes de esquerda nas décadas de 1960 e 1970 - para criticar os vizinhos.

"Esta Tríplice Aliança, integrada pelos governos de Argentina, Brasil e Paraguai, pretende reeditar uma espécie de Operação Condor contra a Venezuela, que ataca e criminaliza seu modelo de desenvolvimento e democracia, agressão que não se incomoda inclusive em destruir a institucionalidade e a legalidade do Mercosul", diz o documento.

Caracas disse que essa "Tríplice Aliança" é formada por "forças retrógradas e neoconservadoras que tentam trazer de volta as nefastas políticas neoliberais que submeteram os povos do Sul a pobreza, miséria, desigualdade e exclusão de seus direitos humanos".