Título: Mercado cede a BC e vê inflação recuar
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 25/10/2011, Economia, p. 13

Ainda é cedo para afirmar se o mercado aderiu às projeções do Banco Central, mas os analistas já começam a caminhar na direção esperada pela autoridade monetária. Depois de sete semanas seguidas elevando a estimativa de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2012, os analistas revisaram a inflação para baixo, em 0,01 ponto percentual, de 5,61% ao ano para 5,60%. Para 2011, eles reverteram a previsão e reduziram, depois de três previsões de alta, a expectativa de preços elevados, de 6,52% para 6,50%, exatamente no teto da meta de 4,50%, já considerados os dois pontos percentuais de tolerância.

A economista Tatiana Pinheiro, do Banco Santander, avalia que o reajuste para baixo é um reflexo do resultado do IPCA-15 de outubro, que veio menor do que o mercado esperava. "O mercado trabalhava com 0,45% e o IPCA-15 ficou em 0,43%", explicou. Tatiana classificou a revisão como "tímida", mas admitiu que a surpresa com o índice de inflação foi positiva, dentro de um cenário que só piorava. Para 2013, o mercado ainda não fez qualquer revisão, permanecendo a média das apostas numa inflação em 4,9%, ainda acima do centro da meta.

Evidências Diante de uma previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) menor, era de se esperar que, em algum momento, esse movimento também refletisse na inflação, avaliou Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora. "É factível supor que alguns apostadores do mercado futuro já comecem a vislumbrar alguma possibilidade de queda dos juros em 2012 em função estritamente do cenário ruim nos Estados Unidos e na Europa", opinou.

Diante desse quadro, também cresce a expectativa de menores preços das commodities ao longo dos próximos meses. Daí a revisão para baixo das projeções de inflação para o ano que vem. Mesmo sem olhar para o cenário internacional, o PIB em baixa combina com inflação em queda, porque reflete uma economia se desacelerando, como vem pregando Alexandre Tombini, presidente do BC. É o que pensa, também, o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, que está convencido de que, mais cedo ou mais tarde, o mercado vai se curvar às evidências da crise.

A nova projeção de PIB do mercado financeiro, segundo o Boletim Focus, é de 3,3% este ano. A queda da estimativa de crescimento, ao contrário da inflação que começa a vir em conta-gotas, é vertiginosa. Há quatro semanas, o mercado trabalhava com um PIB de 3,51% para o ano.

Saída dos estrangeiros Diante da crise internacional e da primeira redução da taxa de juros básica (Selic) em 2011, os investidores estrangeiros começaram a abandonar suas apostas dos títulos públicos brasileiros em setembro. No mês passado, a participação deles na dívida pública interna apresentou a segunda queda do ano, de 11,75% para 11,29% — um total de R$ 4,3 bilhões. Apesar do recuo, o saldo total da dívida federal cresceu 2,28%, de R$ 1,77 para R$ 1,81 trilhão. Aumentaram participações das instituições financeiras (de 30% para 30,45%) e dos fundos de previdência (de 14,6% para 15,51%), com saldo de R$ 524,85 bilhões e R$ 267,36 bilhões, respectivamente. O recuo dos investidores de fora, contudo, não preocupa o governo. "Os estrangeiros continuam com o planejamento de investimentos no país", garantiu o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Fernando Garrido.