Correio braziliense, n. 19365, 02/06/2016. Política, p. 3

Sem interferência na Lava-Jato

CRISE NA REPÚBLICA » Durante discurso, presidente em exercício afirma que governo será intransigente com "tudo que se afaste da estrita legalidade". Novo ministro da Transparência, Torquato Jardim, toma posse hoje
Por: Naira Trindade

Naira Trindade

 

O presidente em exercício, Michel Temer, voltou a defender “pela enésima vez” que ninguém vai interferir nas investigações da Operação Lava-Jato, que já derrubaram dois ministros da gestão do peemedebista. Em 17 dias de governo, a divulgação de diálogos da Lava-Jato forçou a saída de Romero Jucá, Planejamento; e Fabiano Silveira, da Transparência, Fiscalização e Controle. No lugar de Silveira, Temer dá posse hoje ao jurista Torquato Jardim.

“Quero revelar, pela enésima vez, que ninguém vai interferir na chamada Lava-Jato. A toda hora eu leio uma ou outra notícia de que o objetivo é derrubar a Lava-Jato, por isso que eu tomo a liberdade, sem nenhum deboche, de dizer pela enésima vez: não haverá a menor possibilidade de qualquer interferência do Executivo nessa matéria”, defendeu, no discurso de cerimônia de posse dos presidentes de bancos do Brasil, da Caixa Econômica Federal, do BNDES, do Petrobras, do BNDES, além dos presidentes do Ipea e da Petrobras.

Aos novos gestores, Temer argumentou que seu governo deve ser “intransigente” com tudo que não estiver dentro da legalidade. “Minha orientação é simples. Ela se resume a alguns poucos, mas espero adequados conselhos: trabalhar duro; ter um interesse público como horizonte; preservar a ética e a transparência na gestão e em todas as decisões; estimular a eficiência e os eficientes; estar em sintonia com os anseios da sociedade e ser absolutamente intransigente com tudo que se afaste da estrita legalidade.”

O presidente em exercício ainda avaliou os 19 dias de gestão exaltando as medidas da área econômica. “Quero dizer é que em menos de 20 dias, hoje é o 19° — mesmo porque conto o dia a dia —, já pudemos apresentar ao país uma agenda positiva de reconstrução nacional, reduzimos a estrutura da administração pública de modo a torná-la mais ágil e eficiente. Obtivemos, no Congresso, depois de longa discussão, a aprovação da nova meta fiscal e estamos também encaminhando também ao Congresso o projeto que limita despesa, estabelecendo um teto para os gastos públicos”, disse.

 

Indicação

Antes de decidir por Torquato, nome anunciado no início da manhã de ontem, o presidente em exercício se reuniu com o Presidente do SenadoRenan Calheiros (PMDB-AL), e com o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) para confirmar a indicação. Queria o aval do partido e dos senadores responsáveis também por terem indicado o ex-ministro Fabiano Silveira para decidir pela escolha. Era cotada também a ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça Eliana Calmon.

Foi o próprio presidente em exercício que convidou o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para assumir a Transparência. Amigos há 35 anos, Torquato conta que já vinha sendo cotado para o governo por pessoas próximas. Ontem, antes mesmo de tomar posse — prevista para hoje —, Torquato se reuniu com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Hoje, quem se reúne com Padilha será o presidente do Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon), Rodinei Marques, que pretende brigar pela volta da vinculação da CGU, mas alega que dará um voto de confiança ao novo ministro. “Não abrimos mão da CGU, mas podemos dar um voto de confiança a ele”, finaliza.