Valor econômico, v. 17 , n. 4061, 03/08/2016. Política, p. A8
Por: Cristiane Agostine
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que recorreu à ONU contra o juiz Sergio Moro para exigir respeito nas investigações da Operação Lava-Jato. O ex-presidente atacou ações da Polícia Federal e do Ministério Público por "julgar e condenar" antes mesmo de o acusado se defender. "A Polícia Federal não investiga, ela acusa, vaza para a imprensa; o Ministério Público vaza para a imprensa, quer investigar e quer julgar ao mesmo tempo; muitas vezes o juiz fala do que vai fazer antes de ter prova", disse, em entrevista à rádio "O Povo/ CBN", de Fortaleza.
Na semana passada, Lula protocolou na Comissão de Direitos Humanos da ONU uma petição contra Moro por abuso de poder. "Entrei na ONU para exigir que haja respeito. A única coisa que quero é respeito. O Lula não quer ser tratado diferentemente do que o mais pobre desse país. O Lula quer ser tratado em igualdade de condições", declarou.
O ex-presidente disse que há dois anos houve relatos de pessoas que teriam sido pressionadas a fazer denúncias contra ele durante a delação premiada. "Conheço bandidos que foram fazer delação e todo mundo fala: 'fala do Lula, fala do Lula'", disse. "Dai convoca o Delcídio [do Amaral] para fazer delação premiada e cita meu nome numa mentira. É só olhar na cara dele e você percebe que ele está mentindo. E é com isso que se pede o meu indiciamento. Sinceramente, eu como ser humano fico ofendido moralmente porque acho que respeito, gosto de dar e receber", disse. "Isso não está acontecendo nesse momento e por isso entrei na comissão de direitos humanos".
Na entrevista, o petista voltou a afirmar que poderá ser candidato à Presidência em 2018. Ao ser questionado se disputaria um novo mandato diante do desmonte de programas sociais feito pelo governo interino de Michel Temer (PMDB), respondeu que todos os movimentos sociais estão preocupados. "Não posso ficar querendo me comportar como se fosse um salvador da pátria", afirmou. "Não sou candidato porque eu peço a Deus para que apareça gente mais nova do que eu. Agora é o seguinte: se tentarem mexer nos direitos dos trabalhadores não se iludam porque se for voltar eu volto, se for preciso ser candidato, eu sou".
Segundo o petista, todo homem público "se motiva sempre" diante da possibilidade de uma nova eleição. "Sou homem público, criei o PT, se tiver que morrer dentro de um partido será no PT e sei o que significou ao povo brasileiro a minha chegada à Presidência."
Lula afirmou que na próxima semana irá a Brasília para conversar com senadores e tentar conquistar votos favoráveis à presidente afastada Dilma Rousseff, para impedir o impeachment de sua sucessora. "Não tem nenhum direito o Senado e a Câmara de cassar a Dilma por crime de responsabilidade. Ou assume politicamente que é um golpe parlamentar, que quer antecipar a saída da presidente para que eles possam assumir, ou vão ter que prestar contas e dizer que são golpistas".