Triplex. Polícia Federal aponta indícios de que ex-presidente e ex-primeira-dama se beneficiaram de esquema na Petrobrás; inquérito incrimina ainda Okamotto e Léo Pinheiro.

A Polícia Federal indiciou ontem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica no inquérito da Operação Lava Jato relacionado ao triplex do Condomínio Solaris, no Guarujá (SP). É a primeira vez que a investigação diz formalmente que há indícios – apontando provas materiais e testemunhais – de que o ex-presidente se beneficiou do esquema de corrupção e desvios de recursos da Petrobrás.

Foram indiciados também a ex-primeira-dama Marisa Letícia, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, e o ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, além de um engenheiro da empreiteira. A ex-primeira-dama foi enquadrada nos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Lula e Marisa foram apontados como beneficiários “de vantagens ilícitas, por parte da OAS, em valores que chegaram a R$ 2,4 milhões”. A empreiteira teria bancado obras de reforma do triplex e “o armazenamento de bens do casal”, entre 2011 e este ano.

É o primeiro inquérito dos três abertos em Curitiba a ser concluído, em que Lula e sua família são investigados por envolvimento no esquema de cartel e corrupção na Petrobrás.

Nos outros dois procedimentos, são apuradas a compra e as reformas no Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), e os pagamentos e as doações de empreiteiras do cartel para a empresa do ex-presidente – LILS Palestras e Eventos – e para o Instituto Lula. Neles, são investigados ainda dois filhos do casal.

O indiciamento pela PF antecede a denúncia criminal a ser apresentada pelo Ministério Público Federal ao juiz Sérgio Moro – que conduz os processos do caso na primeira instância da Justiça Federal. Nesta semana, os procuradores pediram 90 dias para oferecer denúncia no caso do triplex.

‘Vantagem indevida’. A Polícia Federal afirma que reuniu como provas de que a OAS teria custeado a reforma no triplex e o armazenamento de bens notas fiscais, documentos encontrados nas buscas e análise de mensagens trocadas nos celulares dos investigados.

“(Lula) Recebeu vantagem indevida por parte de José Aldemário Pinheiro e Paulo Gordilho, presidente e engenheiro da OAS, consistente na realização de reformas no apartamento 174”, afirma o relatório final do inquérito assinado pelo delegado Márcio Adriano Anselmo. O imóvel recebeu obras avaliadas em R$ 777 mil, móveis no total de R$ 320 mil e eletrodomésticos no valor de R$ 19 mil – totalizando R$ 1,1 milhão.

Construído pela Cooperativa Habitacional do Sindicato dos Bancários (Bancoop), que teve como presidente o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto – preso na Lava Jato desde abril de 2015 –, o prédio foi adquirido pela OAS em 2009 e recebeu benfeitorias da empreiteira, acusada de cartel e corrupção na Petrobrás. Para a Lava Jato, o ex-presidente seria o verdadeiro dono do triplex e as reformas seriam propinas. A defesa do petista nega taxativamente.

O indiciamento não imputa a Lula o crime de associação à organização criminosa descoberto na Petrobrás. “Outros fatos, como aquisição e reformas do imóvel em Atibaia/SP, bem como a utilização da LILS Palestras para recebimento de valores com origem em empresas investigadas no âmbito da Operação Lava Jato em razão de terem participado do esquema de desvio de recursos da Petrobrás, encontram- se em apuratórios apartados”, escreveu o delegado.

PETISTA NA MIRA

O ex-presidente Lula é alvo de três inquéritos abertos em Curitiba no âmbito da Lava Jato

1. Triplex no Guarujá

Inquérito apurou reformas em apartamento e o custeio do armazenamento de acervo presidencial. Investigadores apontam que o triplex tem relação com vantagens indevidas pagas por empreiteiras ao petista

2. Sítio em Atibaia

Inquérito apura suspeita de corrupção, ocultação de patrimônio e formação de quadrilha envolvendo a propriedade usada por Lula e que foi reformada por empreiteiras sob investigação da Lava Jato

3. Palestras e doações

Inquérito apura suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo pagamentos de empreiteiras alvo da Lava Jato para a empresa de palestras (LILS) do ex-presidente e doações feitas ao Instituto Lula pelas construtoras 1 2 3