Defesa diz que delegado produziu 'peça de ficção'

Ricardo Galhardo e Vera Rosa

27/08/2016

 

 

Advogado de Lula critica indiciamento e diz que há forte ‘componente político’ no relatório da PF; para ex-presidente, é uma tentativa de impedir que seja candidato.

O advogado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cristiano Zanin Martins, disse que o indiciamento do petista por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica é um ato político.

Martins classificou o relatório do delegado da Polícia Federal Marcio Adriano Anselmo como uma “peça de ficção repleta de graves erros jurídicos” e destacou manifestações do delegado em redes sociais hostis a Lula e ao PT.

Segundo o advogado, o delegado não tem isenção para conduzir a investigação e teria a obrigação de se declarar impedido.

“Em relação ao meu cliente existe um componente político muito forte primeiro porque ele já foi vítima de atos manifestamente arbitrários, atos praticados com fins absolutamente estranhos ao processo como a divulgação de conversas interceptadas, conduta que a lei define como criminosa e as estranhas coincidências entre antecipações de juízo de valor, vazamentos e outros atos com momentos políticos do País”, disse Martins, em referência ao início do julgamento do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.

‘Anta’. De acordo com o advogado, as manifestações de Anselmo em redes sociais chamando Lula de “anta” e declarando apoio a adversários políticos do petista podem ser motivo de questionamento jurídico.

“A partir do momento que o ato deixa de ser praticado com a finalidade prevista em lei este ato passa a ser questionado do ponto de vista jurídico.”

‘Factoide’. Na mesma linha de sua defesa, Lula disse ontem a senadores do PT, em Brasília, que o seu indiciamento pela Polícia Federal, às vésperas do julgamento do impeachment tem objetivos exclusivamente políticos. Na avaliação de Lula, tratase de mais um “factoide”, na tentativa de impedir sua candidatura à eleição presidencial de 2018.

“Podem trazer os maiores investigadores do mundo aqui que não vão provar que esse apartamento é meu”, afirmou o ex-presidente, de acordo com relato de dois senadores do PT.

Lula costuma se referir ao imóvel como um apartamento do Minha Casa Minha Vida por causa do seu tamanho, considerado pequeno para um tríplex. Investigadores da Lava Jato também suspeitam que o expresidente seja dono de um sítio em Atibaia (SP), reformado pela OAS e Odebrecht.

Okamoto. Em nota, o advogado Fernando Augusto Fernandes, que defende o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, declarou que “não existe vantagem ilícita e nenhum crime” na contribuição de seu cliente para a manutenção do acervo presidencial após a saída de Lula da Presidência da República.

“O acervo é privado, de interesse público e do povo brasileiro, regulado pela Lei 8394/91 (...) A preservação de toda essa memória é uma das atribuições do Instituto Lula”, diz a nota.

Procurado, o criminalista José Luís Oliveira Lima, que defende o empresário Léo Pinheiro, da OAS, não se manifestou sobre o indiciamento.