Título: União Europeia sob ataque
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Fonte: Correio Braziliense, 25/10/2011, Economia, p. 15
Primeiro-ministro britânico, David Cameron, sufoca revolta de correligionários que pregam a saída do país do bloco
Londres — A crise de dívida na Zona do Euro, que aflige países europeus no continente, começa a criar problemas do outro lado do Canal da Mancha. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, enfrentou ontem a maior rebelião em seu partido desde o início do seu governo, quando dezenas de parlamentares conservadores manifestaram apoio a um referendo que pode tirar a Grã-Bretanha da União Europeia (UE). Esse debate já dividiu os conservadores na década de 1990, e Cameron se mostrava desesperado para evitá-lo desde que assumiu a liderança do partido, há seis anos.
Com a ajuda do Partido Trabalhista, de oposição, Cameron conseguiu derrotar a proposta por 483 votos a 111. Mas 80 membros do Partido Conservador, o mesmo do primeiro ministro, votaram a favor da moção. A revolta dos conservadores colocou em xeque a autoridade do líder na condução de um assunto com grande potencial para continuar causando tensões dentro da coalizão governamental, que inclui o Partido Liberal-Democrata, pró-Europa.
O tema também provoca atritos com os países vizinhos, que estão às voltas com a mais grave crise das últimas décadas na união monetária formada por 17 dos 27 países da União Europeia. A Grã Bretanha não participa da Zona do Euro, já que manteve sua antiga moeda, a libra, mas tem se envolvido cada vez mais no debate para tirar os sócios da crise e nem sempre tem sido bem recebido. No domingo passado, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, fez uma queixa direta a Cameron numa reunião de cúpula da UE. "Você diz que detesta o euro, não quis adotá-lo e agora quer interferir em nossas reuniões. Estou cansado de que você nos critique e nos diga o que fazer", disse o presidente francês, segundo relato feito por diplomatas à imprensa britânica.
Para os rebeldes conservadores, este seria o momento mais conveniente para a Grã-Bretanha abandonar ou renegociar os termos da sua participação na UE. Para os "eurocéticos", a soberania britânica foi abalada pelas seguidas transferências de poder para Bruxelas, onde fica a sede do bloco, e a crise da Zona do Euro é uma oportunidade para que a Grã Bretanha recupere sua autonomia.
O chanceler William Hague, ele próprio um "eurocético" conservador, disse, porém, que a proposta do referendo vai "completamente contra a política do governo". "Ela criaria uma incerteza econômica adicional neste país, num momento econômico difícil", afirmou o ministro à BBC. Os partidários da permanência britânica no organismo diplomático lembram que 40% do comércio do país é com a Zona do Euro e que deixar o bloco poderia prejudicar a economia e os investimentos estrangeiros.
Dilma critica indefinição A presidente Dilma Rousseff conversou ontem com o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, sobre a próxima reunião do G-20, grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo, marcada para 3 e 4 de novembro, na França. Segundo o porta-voz da Presidência, Rodrigo Baena, Dilma lamentou as indefinições dos europeus no enfrentamento da crise da Grécia e manifestou o temor de que ela contagie outros países, mas disse que o Brasil está preparado. "A presidente disse que é importante manter a responsabilidade fiscal, combater a inflação e preservar as reservas. Mas o principal é buscar crescimento sustentável, com desenvolvimento social, distribuição de renda e emprego", afirmou Baena.