Valor econômico, v. 17 , n. 4060, 02/08/2016. Agronegócios, p. B11

Pacto com EUA na carne bovina deve derrubar outras barreiras

É o que esperam o governo federal e os frigoríficos exportadores

Por: Cristiano Zaia

 

Ainda que o início dos embarques brasileiros de carne bovina in natura aos Estados Unidos vá demorar pelo menos três meses, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou ontem, em cerimônia no Palácio do Planalto, que a celebração definitiva do acordo que tornou viável o comércio bilateral do produto confere status sanitário suficiente para que outros mercados também se abram ao Brasil. Embora já seja o maior exportador global de carne bovina, o Brasil não tem permissão para exportar para países como Canadá, México, Japão e Coreia do Sul.

Na sexta­feira, autoridades dos governos brasileiro e americano assinaram, em Washington, tanto as cartas de reconhecimento de equivalência sanitária quanto os acordos sanitários necessários para viabilizar o início das transações comerciais de carne bovina in natura entre os dois países. Ontem, na cerimônia em Brasília, Maggi, o presidente interino Michel Temer e o chanceler brasileiro José Serra promoveram a troca simbólica desses documentos com a embaixadora americana no país, Liliana Ayalde.

“Esse trabalho para a abertura do mercado de carne bovina, de condições sanitárias admitidas pelos Estados Unidos, que tem uma repercussão internacional, (…) ajuda, na verdade, a abrir o mercado de outras praças”, disse Temer.

O terreno para a abertura do comércio bilateral do produto foi pavimentado pelo pacto assinado no ano passado, em Washington, pelos presidentes Barack Obama e Dilma Rousseff. Maggi reconheceu os esforços de governos anteriores nesse sentido e se mostrou otimista. “Agora podemos dizer que nosso status sanitário é compatível com o dos EUA. É uma estrada que se abre para nós”, afirmou Blairo Maggi.

“As barreiras não­-tarifárias são um impedimento insidioso às nossas exportações. Mas no caso da carne brasileira, já exportamos para mais de 130 países e agora os americanos também garantem qualidade sanitária da nossa carne”, reforçou José Serra.

Antônio Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), concorda que, a partir da abertura americana, a carne bovina in natura brasileira passa a vislumbrar outros potenciais mercados ­ principalmente Canadá e México, países vizinhos aos EUA. Camardelli foi cauteloso em projetar o potencial valor das exportações de carne bovina in natura aos americanos, mas o governo federal voltou a estimar um montante em torno de U$ 900 milhões.

No cenário traçado pela Abiec, os americanos deverão absorver mais, num primeiro momento, cortes da parte dianteira do boi, menos valorizados que os da parte traseira. “Num ano cheio, os patamares vão ficar nas condições indicadas pelo ministro [Blairo Maggi]”. Para especialistas consultados pelo Valor, dificilmente os embarques brasileiros renderão mais que US$ 300 milhões por ano nos próximos anos, e esse também poderá ser mais ou menos o valor das vendas americanas ao Brasil ­ ou seja, o fluxo ficaria no zero a zero.

Tanto Maggi quanto Camardelli explicaram que o acordo bilateral firmado prevê que o Brasil cumpra uma cota limite de 64,8 mil toneladas por ano sem incidência de tarifas. Caso haja espaço para a indústria superar essa quantidade, haverá uma cobrança de 24,6% sobre os volume embarcados, condição já imposta a outros países, sobretudo latino­americanos, dos quais os EUA já importam carne bovina in natura.

Além dos parceiros americanos no Nafta, Camardelli também citou como novo mercado em potencial a Jamaica, que geralmente segue o padrão sanitário exigido pelos EUA.