Título: Líbios articulam seu novo governo
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 25/10/2011, Mundo, p. 19

Líder da rebelião promete anúncio em 15 dias. Comissão investigará morte de Kadafi

Pressionados pelos questionamentos sobre a morte de Muamar Kadafi e pela expectativa quanto às primeiras medidas para definir a Líbia pós-ditadura, os líderes revolucionários iniciaram as negociações para formar um governo de transição e instituíram um órgão que investigará a execução de Kadafi. As incertezas no país incluem declarações segundo as quais a nova Constituição terá como referência a sharia, o código de leis islâmico. Na opinião de analistas, porém, isso não significa um regime teocrático, mas uma tentativa de unificar os líbios em torno de um dos poucos elementos comuns em uma população fragmentada.

Um dia depois de anunciar a libertação total da Líbia, após 42 anos de ditadura, o chefe do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafá Abdul Jalil, declarou ontem que as discussões para a formação do governo de transição já tiveram início e que uma decisão deverá ser anunciada em duas semanas. Segundo o roteiro anunciado pelo novo governo, serão realizadas eleições constituintes em um prazo máximo de oito meses, seguidas por eleições gerais um ano mais tarde.

Enquanto planeja o futuro, o CNT precisa também pensar no passado. Após grande pressão internacional e cobranças, o conselho decidiu criar uma comissão para investigar as circunstâncias da morte de Kadafi, capturado vivo na última quinta-feira. O pedido partiu da viúva do ex-ditador e das Nações Unidas. O corpo esteve exposto em um frigorífico do mercado de Misrata até ontem, quando as novas autoridades proibiram as visitas. O local e a data do sepultamento continuavam ignorados, mas uma autoridade do CNT, citada pela agência de notícias Reuters, afirmou que o corpo seria enterrrado hoje.

O dia de explicações não parou por aí para Abdul Jalil. Sua declaração no dia anterior de que a sharia seria fonte da legislação líbia alertou ativistas e alguns governos que se disseram preocupados com uma provável guinada ao extremismo religioso. Na opinião do analista internacional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Williams Gonçalves, porém, o fato de a Carta se basear na lei islâmica não significa que haverá um governo teocrático ou radical. "Trata-se de um consenso ancorado em um preceito fundamental para aquele povo. É um chamamento à reunificação", afirmou ao Correio.

Iêmen O presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, aceitou ontem, segundo a agência de notícias estatal Saba, uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que lhe recomenda adotar um plano mediado por países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) para a transferência de poder. Saleh, porém, já havia rejeitado três vezes o plano proposto pelos países árabes vizinhos. O projeto prevê eleições parlamentares e presidenciais depois de ser formado um novo gabinete, liderado pela oposição, e de o presidente deixar o cargo.

Islâmicos em vantagem O partido islâmico Ennahda assegurou ontem que liderava a apuração das primeiras eleições realizadas na Tunísia desde a queda do ditador Zine El-Abidine Ben Ali, em janeiro. Os resultados oficiais serão anunciados hoje. O Ennahda estima ter obtido "de 25% a 30%" dos votos na eleição realizada domingo, segundo o diretor do escritório executivo do partido, Abdelhaid Jlasi. Os tunisianos foram às urnas em massa para escolher uma assembleia constituinte.