Valor econômico, v. 17 , n. 4060, 02/08/2016. Política, p. A6

Temer tenta conter mal estar com proposta de reeleição

Por: Andrea Jubé / Raphael Di Cunto

 

O presidente interino Michel Temer desdobrou-se nas últimas 48 horas para desfazer o mal estar criado em sua base aliada pela declaração do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que lançou a candidatura do pemedebista à reeleição. Na montagem do governo, para atrair o PSDB, Temer sinalizou que não tentaria se reeleger. No entanto, a afirmação de Maia provocou turbulência na equipe, onde dois ministros - José Serra (PSDB) e Henrique Meirelles (PSD) - esboçam a candidatura presidencial em 2018.

Coincidentemente, ou não, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, protagonizou ontem, em solenidade no Palácio do Planalto, uma cena simbólica em meio à repercussão do lançamento da candidatura de Temer. Durante o anúncio de exportação da carne brasileira aos Estados Unidos, num deslize do cerimonial, Serra discursou do púlpito do presidente da República.

Ontem, Temer abriu a reunião de líderes governistas na Câmara reafirmando que não será candidato. "Temer reiterou que não é candidato, disse que jamais seria, que publicamente, em vários momentos, já afirmou isso", relatou o líder do PSD, Rogério Rosso (DF).

No domingo, o Planalto divulgou uma nota oficial rejeitando a ideia. "Fico honrado com a lembrança do meu nome, mas reitero, uma vez mais, que apenas me cabe cumprir o dever constitucional de completar o mandato presidencial, se o Senado Federal assim o decidir. Não cogito disputar a reeleição", afirmou.

O debate sobre a sucessão ganhou corpo com entrevista de Rodrigo Maia ao jornal "O Estado de S. Paulo", afirmando que, se o governo alcançar 50% de ótimo ou bom, Temer seria o candidato do campo governista, "quer queira, quer não". Maia acrescentou que haveria uma "forte tendência de Temer ir para o segundo turno e ganhar do Lula".

Ontem Maia fez acenos para mostrar que não se afastará dos tucanos e, a interlocutores, disse que foi mal-interpretado. Mas o fato é que DEM e PMDB têm atuado junto há algum tempo. No começo do segundo mandato de Dilma Rousseff entraram juntos com ação juntos para barrar o crescimento do PSD - que poderia esvaziar as duas siglas - e atuaram em conjunto na Câmara, na gestão do ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Mas a declaração de Maia constrangeu o PSDB. Na formação do governo, Temer empenhou-se em atrair os tucanos, que têm dois pré-candidatos para 2018: o presidente da sigla, senador Aécio Neves (MG), e o chanceler José Serra. Na cota pessoal de Aécio, Temer nomeou para o Ministério das Cidades o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE). Além disso, nomeou para o cargo de líder do governo no Senado o vice-presidente da sigla, Aloysio Nunes (PSDB-SP).

Além disso, o PSDB teve papel decisivo na eleição de Rodrigo Maia, num apoio costurado discretamente por Michel Temer. Tanto que, após a vitória, o primeiro gesto de Maia foi uma visita a Aécio Neves. Na sequência, Maia foi ao Planalto.

Ontem o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Antônio Imbassahy (BA), minimizou o episódio. O tucano disse que o debate sobre a reeleição de Michel Temer (PMDB) não existe e é prejudicial ao país. "Isso não existe. Mais do que despropositado, é um debate prejudicial ao país", afirmou.