PF vê contradição de Lula em depoimento

Julia Affonso, Ricardo Brandt, Mateus Coutinho e Fausto Macedo

26/08/2016

 

 

Após ser conduzido coercitivamente, ex-presidente negou conhecer ex-diretor da OAS que aparece em foto com petista no sítio de Atibaia.

Relatório da Polícia Federal aponta contradição no depoimento prestado por Luiz Inácio Lula da Silva à Operação Aletheia, em 4 de março, quando o ex-presidente foi conduzido coercitivamente. Na ocasião, Lula foi levado pelos agentes federais para depor no Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo, e afirmou não conhecer o executivo Paulo Gordilho, ligado à empreiteira OAS.

Conforme o relatório da PF, as afirmações do petista vão “em sentido contrário” a mensagens apreendidas pela Lava Jato.

Gordilho é alvo das investigações envolvendo o pagamento de benfeitorias no Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, e no tríplex do Edifício Solaris, no Guarujá, ambos em São Paulo. A força-tarefa da Lava Jato suspeita que os imóveis serviam como propriedade oculta do ex-presidente.

Além de ser a dona do apartamento no Guarujá, a OAS – em conjunto com a Odebrecht – teria feito obras na propriedade rural em Atibaia. O documento da PF, com data de 22 de junho, destaca a troca de mensagens entre Gordilho, sua filha Isnaia e o dono da OAS, Léo Pinheiro.

O relatório confrontou os diálogos com o depoimento prestado por Lula em março. “Na ocasião, num dos momentos, Lula revela que não conhece o senhor Paulo Gordilho, ex-diretor da OAS Empreendimentos, declaração esta que vai em sentido contrário do contexto da troca de mensagens inseridas, uma vez que, pelo teor dessas mensagens, era possível notar que havia alguma relação de proximidade entre Paulo Gordilho e o expresidente Lula”, diz o relatório.

‘Cachaça da boa’. Outro laudo da Polícia Federal, anexado aos autos da Lava Jato no fim de julho, destaca uma foto de um encontro entre Gordilho e Lula em fevereiro de 2014. “Bebemos eu e ele uma garrafa de cachaça da boa Havana mineira e uma (sic) 15 cervejas”, disse o ex-diretor da empreiteira em uma mensagem da época.

O encontro teria ocorrido em 9 de fevereiro de 2014, na área de churrasqueira da propriedade.

Segundo o laudo, foram encontradas dez fotos com registro da reunião no sítio de Atibaia.

No depoimento prestado em março deste ano, o delegado da PF Luciano Flores de Lima questiona o ex-presidente: “O senhor conhece o senhor Paulo Gordilho, ex-diretor da OAS Empreendimento?” Lula responde: “Por nome, não, mas…” O delegado, então, retorna à pergunta. “Não? O Paulo Gordilho, não?” O expresidente responde fazendo “sinal negativo com a cabeça”, segundo o relatório.

“O senhor conhece algum ex-diretor da OAS?”, questiona o delegado. “Não”, afirma Lula.

O delegado, em outro trecho do depoimento, pergunta novamente a ele. “Esse Paulo Roberto Valente Gordilho, ex-diretor da OAS, que eu lhe perguntei, o senhor sabe dizer se ele tinha alguma relação com esse imóvel (tríplex do Guarujá), tinha alguma coisa lá?” “Não”, diz Lula.

No relatório, a PF destacou mensagens em que Gordilho fala com filha sobre um encontro em Atibaia “na fazenda de Lula”.

Estariam presentes o próprio executivo, Léo Pinheiro, o ex-presidente e a ex-primeiradama Marisa Letícia “para tratar de assuntos de arquitetura relacionados à casa e à lagoa que está vazando, como explica o próprio Paulo Gordilho a sua filha nas mensagens”.

Para a PF, as mensagens demonstram “a atuação de Paulo Gordilho, e, consequentemente, da Construtora OAS, em obras realizadas no sítio em Atibaia/ SP, indicando ainda a ciência por parte do ex-presidente Lula acerca do assunto.” Lula é alvo de três inquéritos centrais da Lava Jato – um apura a propriedade e as reformas no sítio Santa Bárbara em Atibaia; outro apura as reformas no tríplex no Guarujá; e o terceiro investiga os pagamentos e doações para LILS Palestras e Eventos e ao Instituto Lula.