Brasil perdeu em julho 94,7 mil vagas de trabalho com carteira assinada

Idiana Tomazelli, André Ítalo Rocha, Daniel Weterman e Eduardo Laguna 

26/08/2016

 

 

Emprego. Número é menor do que as 157,9 mil demissões registradas no mesmo mês do ano passado pelo Caged, mas é o 16º resultado negativo para o período; apesar de ver desaceleração no desemprego, analistas dizem que retomada será lenta.

O mercado de trabalho brasileiro continua encolhendo e, só no mês de julho, perdeu 94.724 vagas com carteira assinada, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Embora o resultado seja o oposto das contratações habituais para o período, analistas ressaltam que o ritmo de dispensas diminuiu em relação ao ano passado – um possível sinal de retomada na confiança.

“A dinâmica do emprego está menos grave do que estávamos acompanhando”, disse o economista- chefe da Austin Rating, Alex Agostini. Em julho do ano passado, o Caged mostrou demissão líquida de 157,9 mil trabalhadores.

Em nota, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, atribuiu a piora menos severa à “recuperação gradual da economia”. “A tendência para os próximos meses é que essa desaceleração continue e possamos gerar vagas no segundo semestre”, disse o ministro.

Apesar do otimismo do governo, especialistas são mais reticentes em apontar o retorno das contratações já neste ano. O resultado negativo de julho é o 16.º consecutivo, e só neste ano são menos 623,5 mil vagas. Além disso, o mercado de trabalho costuma reagir mais lentamente aos ciclos econômicos. Assim como demora para dispensar empregados na crise, a absorção de mão de obra também ocorre com atraso diante da recuperação da atividade.

O tempo de reação ainda varia de acordo com a atividade. Os serviços, por exemplo, têm um “atraso natural”, explicou o economista Luciano Sobral, do Santander. Segundo ele, a demissão em outros setores acaba contaminando o segmento. “Em geral, as pessoas param de usar os serviços depois que perdem seus empregos”, disse.

Maior empregador, o setor de serviços tem de fato intensificado o ritmo de demissões. Só em julho, fechou 40,14 mil postos formais de trabalho, o recordista entre as atividades. No acumulado do ano, já demitiu 164,6 mil, mais que a indústria de transformação, que vinha respondendo pelos ajustes mais severos. Só fica atrás do comércio, que extinguiu mais de 268 mil postos entre janeiro e julho.Diante disso, a recuperação do emprego só deve começar em meados de 2017. “Ainda temos um processo intenso de desemprego para acontecer na economia brasileira”, disse o economista Rafael Leão, da Parallaxis Consultoria.