Título: Doença deve pacificar petistas
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 31/10/2011, Política, p. 5

Saída de cena do ex-presidente até janeiro influi na definição dos candidatos do partido para 2012. Sem ele, o desafio será promover um consenso entre pré-candidatos a prefeito, para não enfraquecer a posição da legenda perante os aliados

A doença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva servirá para pavimentar o consenso interno do PT nas cidades onde a legenda disputa as eleições municipais de 2012. Para o secretário de Comunicação do partido, deputado André Vargas (PR), nenhum petista buscou tanto unificar o discurso da sigla quanto Lula. Diante do diagnóstico de câncer na laringe, Vargas acredita que as dissidências internas tendem a ser deixadas de lado. "É um caminho natural que o PT deve trilhar a partir de agora", disse ele.

Como antecipou o Correio há duas semanas, o PT enfrenta disputas em várias cidades importantes. A mais relevante é em São Paulo, onde o ministro da Educação, Fernando Haddad, deve levar vantagem nas prévias sobre os deputados Carlos Zarattini (SP), Jilmar Tatto (SP) e a senadora Marta Suplicy pelo fato de ser ungido pelo ex-presidente. Mas enfrentará a máquina tucana que governa o estado há 16 anos e o PSD, que administra o caixa municipal, mas não tem candidato ainda definido.

Em outras cidades, o efeito Lula pode privilegiar candidatos não petistas, mas alinhados com amigos de Lula. Em Recife, o PT enfrenta uma disputa interna entre o prefeito, João da Costa, e o antecessor, João Paulo. Mas o cenário está contaminado pelo movimento do PT em cidades do interior. O partido lançou candidato em diversas bases eleitorais do governador Eduardo Campos (PSB). Como reação, ele transferiu o domicílio eleitoral do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, para a capital.

Bolsa Família Se for necessário, Bezerra será candidato. Mas Lula é aliado de Campos e os petistas terão de se virar para acabar com a disputa interna. No Rio, o quadro sacramentou-se de vez. Dificilmente, algum petista questionará a reeleição do prefeito, Eduardo Paes (PMDB). Para a oposição, esse incentivo será maior nas capitais onde o Bolsa Família tem presença forte, especialmente no Norte e no Nordeste. "Onde houver mais beneficiários do programa e o estado estiver mais aparelhado, essa influência será decisiva", avaliou o líder tucano no Senado, Alvaro Dias (PR).

Pelo menos neste primeiro instante, esse é o efeito mais explícito do momento adverso vivido pelo ex-presidente da República. Aliados e opositores de Lula não imaginam uma relação direta entre a doença e a campanha municipal de 2012. Para integrantes dos partidos governistas, o petista estará pronto para ajudar seus candidatos favoritos quando a disputa for de fato iniciada. "A quimioterapia vai durar 90 dias. Vamos ter Natal, ano-novo, carnaval para ele repousar. Em abril, Lula estará conosco novamente", apostou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).