Valor econômico, v. 17, n. 4077, 25/08/2016. Política, p. A7

Temer prepara pronunciamento à Nação

Governistas articulam para tentar concluir a votação do impeachment de Dilma Rousseff no dia 30

Por: Andrea Jubé, Cristiano Zaia / Bruno Peres

 

O presidente interino Michel Temer já começou a redigir o seu pronunciamento à Nação, caso seja efetivado no cargo nos próximos dias, após a conclusão do julgamento do impeachment. O discurso, em tom otimista, será veiculado em cadeia nacional de rádio e televisão logo após a posse e juramento de Temer em sessão do Congresso Nacional. A expectativa do Palácio do Planalto é que o impedimento da presidente afastada Dilma Rousseff seja confirmado pelos senadores, ainda no dia 30 de agosto, com um placar de no mínimo 61 votos - sete além do necessário.

A equipe de Temer planeja o governo efetivo. Depois de participar da cúpula do G-20 na China, Temer comandará o desfile de 7 de Setembro e participará da abertura dos Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro. Em contrapartida, sob pressão da Frente Parlamentar da Agropecuária, Temer deve rever a decisão de recriar o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), já anunciada pela Casa Civil.

Temer começou a escrever sua fala aos brasileiros, que terá um tom mais popular, em contraposição aos discursos que fez até agora como interino. Ele já mostrou esboços do texto aos ministros mais próximos. Um dos auxiliares mais ouvido nessa missão é o ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Torquato Jardim.

Temer falará com vistas ao futuro, em tom otimista, pedindo a confiança dos brasileiros em sua equipe para que seja possível recuperar a economia e evitar a perda de mais empregos. Retomará a narrativa de que recebeu um país em crise, com 12 milhões de desempregados, e com um rombo fiscal de R$ 170,5 bilhões, e que para reparar esse cenário, serão necessárias reformas duras, mas estruturantes. Defenderá a proposta de emenda constitucional que fixa um teto para os gastos públicos, e a necessidade de reformar a Previdência Social para garantir a aposentadoria dos mais jovens no futuro. Embora o julgamento possa se estender até quarta-feira, dia 31, aliados de Temer pressionam os senadores para que o processo seja abreviado. Há negociações de bastidores para que o mínimo de senadores formulem perguntas para Dilma, e sua participação no Senado seja encerrada no início da tarde de segunda-feira.

Ontem, em um almoço com deputados e senadores da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), no Planalto, Temer assegurou que não fará nenhum movimento para recriar o Ministério do Desenvolvimento Agrário. E se decidir nessa direção, não agirá antes de fazer uma consulta prévia à bancada.

"Quanto à recriação do MDA, achamos que não seria uma sinalização positiva para o setor e o presidente deixou claro para a gente hoje que esse assunto não está na sua mesa agora", disse ao Valor o presidente da FPA, deputado Marcos Montes (PSD-MG). "Mas se vier a recriar o ministério, deve ser mais para a frente, e ele ficou de discutir antes com a gente", concluiu. O Valor apurou que Temer decidiu ser mais cauteloso neste assunto, porque receia perder o apoio da bancada ruralista, uma das mais fortes no Congresso. Desde que decidiu fundir o MDA com o Desenvolvimento Social, o governo Temer vem sendo alvo de protestos por parte de movimentos sociais que cobram a recriação da pasta.

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Dilma critica 'parasitas' que atacam a democracia

Por: Lucas Marchesini

 

No último ato antes do início de seu julgamento final no processo de impeachment, a presidente afastada Dilma Rousseff criticou "os parasitas antidemocráticos" que atacam a "árvore da democracia". Ela também afirmou que vai ao Senado na segunda-feira para "impedir que o impeachment aconteça".

Lá, ela pretende "defender democracia, projeto político que represento, os interesses que acho serem os legítimos do povo brasileiro e sobretudo construir os instrumentos que permitam que isso nunca mais aconteça em nosso país", prometeu.

Dilma discursou em um auditório para 474 pessoas em Brasília. A plateia era composta por integrantes dos diversos movimentos que compõe a Frente Brasil Popular, entidade que organizou o ato. No palco, ao lado de Dilma, estavam ex-ministros durante o seu mandato, dirigentes de movimentos populares e deputados federais, entre outros. Não havia senadores presentes no evento.

Ao comparar a democracia com uma árvore, a presidente afastada disse que os políticos responsáveis pelo seu afastamento agem como "parasitas" e que "a única coisa que mata parasita antidemocrático é o oxigênio do debate, da crítica, da verdade". "Nós respeitamos as instituições, não os golpistas. É diferente. Nós temos de saber viver em regime democrático e temos usados todos os instrumentos."

"Temos de ser capazes de resgatar democracia em nosso pais, porque golpe desse tipo, mesmo ainda não concluído e que todos nos esperamos que não se conclua, deixa marcas profundas", prosseguiu. De acordo com ela, "a principal marca é que ruptura democrática ocorreu". "Vai ser necessário eleição para se recompor todas as instâncias democráticas do nosso país", apontou. A presidente voltou a citar o suicídio de Getúlio Vargas e ponderou que vivemos um outro momento histórico e que por isso, "não tenho de renunciar, não tenho que me suicidar".

A exemplo do que fez em São Paulo na terça-feira, a presidente afastada criticou as políticas que o presidente interino Michel Temer enviou ao Congresso. Em Brasília, ela deu ênfase à proposta de emenda constitucional (PEC) que fixa um teto para o crescimento dos gastos públicos, atualmente em discussão na Câmara.

De acordo com ela, a PEC levará a "uma redução na saúde". Pouco depois, Dilma atacou o ministro das Relações Exteriores, José Serra, ao criticar a sua gestão a frente do Itamaraty. "É muito grave a tentativa sistemática de destruir o Mercosul e desorganizar toda a Unasul."