Valor econômico, v. 17, n. 4077, 25/08/2016. Especial, p. A12

Para 2018, Ciro investe em ruptura do PSDB com PMDB

Por: Cristiane Agostine

 

Pré-candidato à Presidência, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) tem rodado o país nestas eleições em busca de apoio para viabilizar-se como terceira via em 2018. Na mira de Ciro estão os dissidentes do PMDB e do PSDB. O pré-candidato aposta no rompimento dos tucanos com o presidente interino Michel Temer (PMDB) depois do fim do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.

O principal exemplo da estratégia eleitoral articulada por Ciro está no Rio de Janeiro. O PDT aliou-se ao PMDB e indicou Cidinha Campos como vice na chapa do pemedebista Pedro Paulo, apoiado pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). O ex-ministro vê um futuro rompimento do grupo político de Paes com o PMDB do Rio e costura a migração dos pemedebistas para seu partido. "Há uma dissintonia entre o grupo que Paes representa e essa outra turma do Rio, do [Jorge] Picciani, do Eduardo Cunha", diz Ciro. "Provavelmente eles não estarão juntos no futuro. Talvez seja por isso que ele [Eduardo Paes] tenha nos escolhido como aliado preferencial", afirma.

O mesmo movimento de aproximação com parte do PMDB é registrado em Porto Alegre, onde Ciro esteve ontem. O PDT desistiu da candidatura do deputado Vieira da Cunha à sucessão do atual prefeito, José Fortunati, para apoiar o PMDB do candidato Sebastião Melo, atual vice-prefeito.

No Paraná, Ciro tem conversado com o senador Roberto Requião (PMDB), que deve votar contra o impeachment da presidente Dilma no Senado. No plano local, Requião Filho (PMDB) é um dos principais adversários da reeleição do pedetista Gustavo Fruet. Em São Paulo, o PDT articulou a migração do ex-deputado Gabriel Chalita do PMDB para a sigla e a indicação para vice na chapa do prefeito e candidato à reeleição, Fernando Haddad (PT). Ciro participou da convenção do PT na capital e foi uma das estrelas do evento.

O pré-candidato à Presidência já passou por cidades no Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Piauí e Paraná e deve intensificar as viagens nas próximas semanas. Para dar mais capilaridade à candidatura presidencial em 2018, o PDT planeja eleger entre 500 e 600 prefeitos, mais do que os 319 eleitos em 2012, segundo o vice-presidente nacional do partido, deputado André Figueiredo (CE). "Precisamos de uma base sólida nos municípios para fortalecer a candidatura de Ciro", diz Figueiredo. "É remotíssima a possibilidade de ele não ser candidato em 2018".

Ciro não descarta disputar a Presidência em 2018 contra o ex-presidente Lula, mas diz acreditar que o petista não será candidato. No entanto, considera como impossível o apoio do PT à sua candidatura, ainda que dentro de uma grande frente de esquerda. "Lula só tem a perder. Ele já está jogando seu legado fora porque não entendeu qual era seu papel como ex-presidente e resolveu colocar uma pessoa que imaginou que ia conseguir mandar, em detrimento da política", diz. "Ele deformou sua percepção da vida e passou a brincar de Deus, se autorizando a fazer o que quisesse e bem entendesse".

Contrário ao impeachment de Dilma, o ex-ministro diz que é "improvável a ocorrência de um milagre" que salve no Senado o mandato da presidente afastada e prevê um cenário político e econômico "trágico" para Michel Temer, com o afastamento do PSDB em relação ao PMDB e a desarticulação da base de apoio do chamado Centrão no Congresso.

"Consumado o golpe, o PSDB vai perceber que vai carregar o caixão de um governismo fadado ao fracasso e, portanto, vai romper", diz. O pré-candidato aponta as divisões internas do PSDB e a restrição de parte da legenda à aliança com o governo Temer, com a indicação de tucanos como José Serra (Relações Exteriores) para os ministérios. "O PSDB foi contra seus próprios interesses ao tornar-se parceiro estratégico de Temer para derrubar a Dilma. Os tucanos vivem uma contradição com esse apoio a Temer: se o governo der certo, vai lançar candidato que não é do PSDB. Se der errado, o PSDB vai ficar também como responsável", analisa Ciro. "Então anote aí: o PSDB vai romper. E não demora. Desconjurado o impeachment, o PSDB vai romper", repete.

Como exemplo claro da divisão interna do PSDB, cita a disputa em São Paulo. O governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), criou a candidatura do tucano João Doria e Serra apoiou o lançamento da senadora Marta Suplicy (PMDB) e a indicação do vereador Andrea Matarazzo (PSD) para a vice na chapa pemedebista.

Na análise de Ciro, o Centrão deve romper também com o governo por falta de apoio financeiro aos parlamentares, se confirmado o ajuste fiscal prometido. "Esse Centrão só se movimenta por uma coisa: fisiologia. E fisiologia é contraditório com a austeridade fiscal. Eles vão agir por dinheiro e essa base se desmonta até 2018", diz. "O Centrão vai ser espatifado e vai ter uma hiperfragmentação do quadro de partidos. Um pedaço vai ficar com o PMDB, outro ficará com Lula e eu posso capturar um pedaço", diz. Ciro, no entanto, afirma que é cedo para saber quais siglas poderá atrair. "Não tenho a menor ideia de qual seria esse o pedaço."

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