Temer amplia espaço do PSDB em decisões do governo

16/10/2016

Numa tentativa de aparar as arestas com líderes do PSDB, o presidente em exercício Michel Temer decidiu ampliar a participação dos tucanos em decisões de sua gestão. Em jantar na noite de anteontem no Palácio do Jaburu, Temer prometeu chamar o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), para participar de reuniões do núcleo político e discussões sobre assuntos econômicos.

Também pediu apoio do partido na aprovação da reforma da Previdência e da PEC do Teto dos Gastos no Congresso passado o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.

O encontro de cerca de quatro horas serviu para que Temer fizesse um gesto de aproximação com os tucanos, receosos com os reais objetivos do governo.

Há duas semanas, o Estado revelou que as alas do PSDB haviam dado prazo até o impeachment para que o Planalto deixasse de fazer concessões em propostas que tinham por objetivo melhorar as contas públicas.

O temor de tucanos – partido com três presidenciáveis, o presidente do partido, senador Aécio Neves, o chanceler José Serra e governador paulista, Geraldo Alckmin – é que Temer ou o ministro da Fazenda dele, Henrique Meirelles, poderiam estar mais interessados na sucessão de 2018.

No jantar, Temer disse que a intenção do governo é encaminhar ainda este ano a reforma da Previdência. A disposição, indicou o peemedebista, é votar na Câmara até dezembro a reforma que, se aprovada, vai alterar a forma de concessão e prazo para aposentadorias e pensões.

O governo também quer levar adiante a PEC do Teto dos Gastos, principal âncora do ajuste fiscal e que pouco andou no Congresso. Para levar a cabo essas duas propostas, ele defendeu que Executivo e partidos aliados trabalhem juntos para melhorar a economia e a confiança do País.

O presidente em exercício também deverá fazer um pronunciamento à Nação, possivelmente após a viagem à reunião do G-20 na China no início de setembro, já como efetivo. O discurso terá três principais eixos: a retrospectiva do que herdou; o que fez na interinidade e os planos para o futuro. Ele pediu apoio dos tucanos para contribuir com esse pronunciamento.

2018. Embora oficialmente o discurso seja que eleição presidencial não foi tema do encontro, Temer aproveitou para reiterar que não é candidato e que a antecipação da discussão sobre 2018 agora só atrapalha o ambiente econômico que precisa ser revertido.

Ele reafirmou o compromisso com a aprovação do ajuste, ressaltando que todos precisam da melhoria do cenário econômico para que o País possa voltar a crescer e gerar empregos – o que poderia ajudar a restabelecer a confiança da população nos políticos. O governo peemedebista tem reiterado que, sem essa premissa básica, ninguém vai se viabilizar para 2018.

Em tom de resposta às cobranças do PSDB, o presidente em exercício afirmou que não tinha como deixar de avalizar as propostas de reajuste para o funcionalismo público por entender que elas foram fruto de acordos firmados, por escrito, pela gestão Dilma. E disse que, se não honrasse os compromissos, categorias de servidores poderiam parar o País.

Os dois lados buscaram afinar o discurso. Presente ao encontro, o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, contemporizou a declaração dada ao Estado na terçafeira na qual rebateu as críticas feitas pelo PSDB a Meirelles.

Moreira Franco disse na ocasião que o ministro da Fazenda está sendo vítima de uma “manipulação eleitoral”. No jantar, afirmou que não vai ficar “batendo boca” pela imprensa.

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), disse que, para a relação entre os dois partidos dar certo, basta que os peemedebistas não tratem o PSDB como o PT fez com o PMDB.

Em aceno, Temer disse que, ao colocar Aloysio na liderança, queria dar a cara do PSDB no governo. Aécio Neves foi além: “Mais do que a cara, coloque a alma do PSDB no governo.” Na saída do encontro, Aécio disse que saiu tranquilo com a garantia de que o governo levará as reformas adiante e destacou que haverá um “realinhamento” entre os dois lados após a confirmação de Temer na presidência.

“Nós estamos juntos no apoio ao governo em torno dessa agenda e não há tempo a perder”, disse o senador mineiro.

‘Sinais claros’

“Compreendemos que a interinidade traz certos limites ao governo, mas a gente compreende que, a partir do dia 29, se começa o governo definitivo e que os sinais não podem ser ambíguos, tem que ser claros no sinal das reformas e para isso ele contará com o apoio do PSDB.”

 

O Estado de São Paulo, n.44866, 19/08/2016. Política, p. A8